A igreja paroquial de Lamas de Mouro terá pertencido, em tempos medievais, aos templários, e ainda hoje apresenta vestígios românicos tendo por função ser o baptistério das
aldeias circundantes. Os detalhes do românico encontram-se tanto nas portas,
especialmente a lateral de norte, como nas próprias paredes, cujas pedras estão
pejadas de siglas.
Segundo uma confirmação de 21 de Abril de 1355 feita pelo pároco
ao bispo João de Tui, a igreja de Lamas de Mouro tinha como padroeiros os
cavaleiros de S. João do Hospital.
Pelo Censual de Dom Manuel de Sousa (1545-1549), a Igreja de S.
João foi avaliada em 10.000 reis. No Censual de D. Frei Baltazar Limpo (1551-1581)
aparece como pertencendo à “Terra de Melgaço” sendo da colação do Arcebispo. A
comarca de Valença obtinha dela um benefício de 3.000 reis.
Chegados ao século XVIII, dispomos de duas importantes fontes
históricas para traçarmos uma quadro realista sobre a realidade de Lamas de
Mouro nesta centúria. Uma dessas fonte de informação é a obra “Corografia portugueza e descripçam
topografica do famoso Reyno de Portugal”, do padre Carvalho da Costa,
publicada em 1706, diz-nos que “S. João
de Lamas de Mouro é Abbadia do Ordinario, rende quarenta mil réis, tem quarenta
vizinhos, que são privilegiados de Malta pela Commenda de Távora, a que pagão
muito foro, não sendo a terra por ruim capaz de tanto. Dizem que algum tempo
foy esta Igreja de Templários e delles, quando se extinguiram, passou aos aos
Maltezes. O como saiu deles para o Ordinário não alcançámos, que naquelles
tempos os mais dos contratos eram verbaes. Aqui nasce o rio Mouro, nome que
tomou daquelle poderoso, ou régulo , de que já falámos, e que neste monte tinha
sua coutada de recreação para caçar. O rio ainda que pequeno, dá saborosas
trutas, e se engrossa com o da Mendeira, que pouco abaixo lhe entra.”
Uma outra importante fonte que nos ajuda a conhecer esta terra são
as Memórias Paroquiais de 1758, datadas de 22 de Maio desse ano. Nelas, o
pároco de Lamas de Mouro à época, Constantino Dias, respondeu ao Inquérito
afirmando que na freguesia viviam “dezoito
vizinhos, carenta e cinco pessoas de sacramento, menores cinco, tem mais treze
de sacramento…” Neste caso, o termo “vizinhos” não se refere ao número de
pessoas mas sim ao número de fogos (agregados familiares).
É curioso a forma como o abade explica a origem do topónimo “Lamas
de Mouro”. Segundo o mesmo, “chama-se a
esta freguesia Lamas de Mouro e tomou o apelido “de Mouro” porque dezião os
antigos que fora aqui mesquita de mouros”. Não se conhece documentação ou
prova arqueológica que suporte esta anotação. Atualmente, aceita-se que o nome
da freguesia e paróquia se deva ao facto de aí nascer o rio Mouro. A origem
para o pequeno curso de água se designar
de “Mouro”, leva-nos, segundo Pinho Leal, ao tempo da presença dos mouros na
Península Ibérica, que, nesta região, nunca foi significativa. No livro
“Portugal Antigo e Moderno”, volume 4, publicado em 1874, o autor refere que
por aqui um mouro chamado Jusão tinha uma coutada para caçar. Na memória
paroquial, o pároco refere que “nasce na
freguesia um rio chamado de Mouro que principia na Serra do Lagarto e corre no
estreito desta freguesia, vagaroso, tem um pontilhão chamado a Ponte de Mouro,
tem três moinhos (…). Nesta freguesia não tem senão hum pontilhão de pedra e no
sítio chamado de Porta Trabaços tem humas passadiças de pedra.”
O abade refere-se também àquilo que se cultivava na paróquia,
mencionando que “Os frutos da terra hé
centeio, não se recolhe outro fruto senão linho (…) As terras são poboadas de
hurzes, carrameijas, carqueijas, tojo e penhascos, em algumas partes da serra
se semea nellas chamados labores, não dá senão (centeio) … Cream-se nesta terra
gados grandes, cabras e obelhas, lobos, jabalizes, veados, coelhos, perdizes,
codornizes e rollas”. Claro que tais aspetos estavam relacionados com o
ritmo climático ao longo do ano. A este respeito, o padre carateriza o tempo em
Lamas da seguinte forma: “A qualidade do seu temperamento é no tempo do Verão
quente e no Inverno (…) cair muita neve que nella permanece mais de oito dias,
dez, doze e quinze.”
A paróquia de Lamas de Mouro seria, neste século XVIII, uma
comunidade pequena vivendo da agro-pastorícia e alguma caça. Os seus rendimentos
eram poucos e deles tinham de retirar o valor 35.000 réis de foro que pagavam
aos religiosos da Ordem de Malta.
O pároco refere ainda que a igreja tem “três altares”, sendo “o
principal de S. João Baptista, outro a Senhora dos Remédios e outro de S.
Gonçalo” acrescentando que a paróquia “não tem irmandades”.
A paróquia “não tem correyo e serve-se do correyo de Monção que
dista della coatro legoas”.
Fontes Consultadas:
- Memórias Paroquias de Lamas de Mouro, Valadares (1758);
- COSTA, Carvalho (1706) - Corografia portugueza e descripçam
topografica do famoso Reyno de Portugal. Lisboa.
- LEAL, Augusto Pinho (1874) - Portugal Antigo e Moderno. Volume
IV; Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, Lisboa.
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ResponderEliminarDes templiers de l'ordre de Malte inscription :
ResponderEliminar" DOMUNDO "