terça-feira, 30 de julho de 2013

19 de Março de 1933 - Melgaço vota a favor da nova Constituição do Estado Novo

A 19 de Março de 1933, o estado Novo, procura legitimar a nova Constituição submetendo-a a um referendo.
“Embora o povo não esteja, na sua grande maioria, apto para votar em perfeita consciência o texto completo da Constituição, o seu voto tem um significado político que não é lícito desprezar: é um voto de confiança nos dirigentes”, afirmava o Ministro das Finanças, Oliveira Salazar, na Sessão de 5 de Maio de 1932 do Conselho Político Nacional, sobre a decisão de submeter a plebiscito a Constituição de 1933. 
Ao propor que a Constituição fosse referendada, Salazar reconhecia a necessidade de dar ao mundo a noção, mesmo que aparente, de que o Estado Novo tinha a legitimidade indispensável. O artifício legal de tornar o voto obrigatório e considerar-se através dele a abstenção como uma atitude de aprovação, passaria despercebido aos olhos dos analistas da época e também do povo português. Na verdade, o número das abstenções foram somadas à contagem do "SIM", falseando a vontade da maioria. Bem que podemos dizer que quem cala, consente.
Confira os resultados em Melgaço, onde o SIM ganha de uma forma esmagadora. Ou terá havido um elevado número de abstencionistas?
Ainda se diz que a votação decorreu com elevado entusiasmo...







domingo, 28 de julho de 2013

Parada do Monte (Melgaço) em meados do século XVIII


Nas Memórias Paroquiais de 1758, em 28 de Abril, o pároco Francisco de Caldelas Bacelar respondendo ao ‘Inquérito’ dizia: ‘Os frutos que os moradores recolhem em maior abundância hé o milho grosso, vulgarmente chamado milho mais’. Cultivava-se nas leiras que bordejavam as margens do Mouro e onde também cresciam as latadas pois o vinho (12 cabaços) entrava na composição da renda que a freguesia pagava ao pároco. Na serra rodeavam-se as brandas de ‘centeio, algum milho miúdo, e pouco linho e muita herva no Verão de que fazem os labradores feno para darem de Inverno aos gados’ (…) ‘A criação de gados que tem esta serra hé no tempo do Verão trazerem nella os labradores os seus bois de noutte e de dia dois outros mezes e as bacas e bezerros andam também na serra de dia e à noutte vão procurá-los e recolhem-nos nos lugares das brandas e o mesmo fazem ao gado miúdo de cabras e ovelhas’.
Ao descrever o Rio Mouro salientava ser de ‘curso arrebattado em toda a sua distancia desde o seu nascimento athé botar fora dos limites desta freguezia,  somente em hum sítio chamado Agras de Mouro corre quite hum tiro de mosquete’. Rio pouco piscoso, pois ‘somente no tempo de Verão alguns rapazes caçam nelle algumas trutas pouca e pequenas, mas gostozas’.
Das ‘Memórias Paroquiais’ e ainda pela análise das prestações entregues pelos foreiros e rendeiros aos monges de Fiães e Paderne (Marques 1990: 62-63) poder-se-á esboçar qual seria a composição da dieta alimentar das populações do interior montanhoso do Vale do Mouro. A base da alimentação era fundamentalmente constituída por caldo de couves e feijões engrossado com farinha de milho à qual, por vezes, se seguia alguma carne de aves de criação, de porco (conservada nas salgadeiras) e em certas ocasiões a do cabrito ou a obtida pela caça nos montes onde abundava a perdiz, o javali e em menor número os corços, cuja carne ‘he como a de vittela ‘ no dizer do pároco memorialista. O pescado raramente entrava nas ementas e limitavase às sardinhas de Caminha descarregadas na Lapela ou vindas de Arbo (Galiza) e vendidas em Melgaço pelas ‘sardinheiras’. A lampreia, o sável e o salmão ‘pilhados’ nas cabaceiras e botirões armados nas pesqueiras do Rio Minho eram quase exclusivamente consumidos pelas populações ribeirinhas ou pelos monges de Paderne e Fiães, detentores da propriedade de grande parte daquelas construções fixas para a pesca fluvial. Recebiam o sal vindo de Caminha ‘em barcos pello Minho acima, até á Lapella e depois em carros até o lugar de S. Gregório, aonde há armazéns, aos quaes se vem prover todos os povos do bispado d’ Orense’ .
O núcleo populacional, em 1758, era já expressivo com os seus ‘cento e oitenta  nove vizinhos e quinhentas e vinte e duas pessoas entre grandes e pequenos’. Esta população havia justificado a construção de uma igreja com três altares estando o da capela-mor dotado de uma tribuna. O seu pároco era apresentado pela reitoria matriz de São Pedro de Riba de Mouro e tinha uma ‘renda doze mil réis, doze fanegas de pão, doze cabaços de vinha e dois alqueires de trigo pera hóstias , que lhe paga o colhedor dos fruttos desta terra e tem mais de cada freguês cazado hum alqueire de pão e sendo veuvos meio e solteiros hum coarto’. Era uma comunidade que procurava a autarcia no vestir para o que dispunha de ‘duas cazas de pisoins chamados nesta terra folloins, cada caza tem duas rodas e nelles se apizoam os buréis para mantas de cama e vestiários dos labradores e também se apizoam ou folloam outros materiais ordidos de estopa e tecidos de lam, de que se fazem manteos pera as molheres e calçoins pera os homens e vestias pera meninos’.

Contudo, existiam debilidades como e am a da não existir ‘hospital algum’ nem ‘caza da misericórdia’, a falta de correio servindo-se do da villa de Monção distante por ‘sima de duas legoas’ (idem, ibidem). As estradas apesar de colocarem o agregado em relação com outros mais distantes não permitiam, pelo seu traçado e piso, deslocações rápidas das diligências e malapostas. Existem descrições de viajantes estrangeiros que, nos séculos XVII e XVIII, se deslocaram por outras regiões do País manifestando o seu descontentamento pelas condições em que se viajava. Na reposta ao’Inquérito’ de 1758, o pároco Francisco de Caldelas Bacelar não alude a quaisquer intenção de apropriação privada dos baldios da freguesia. Contudo, o processo de tapamento dos montes comuns já se havia iniciado em outras freguesias do Vale do Minho. Em Gondarém (Vila Nova de Cerveira), no dizer do memorialista, as populações sentiam ‘consternação por não terem onde cortar lenhas para seu uso e matos para a cultura das terras’ desde que ‘pessoas sem título algum acoutaram para si muita parte do monte’. E rematava que ‘ faria Sua Magestade que Deos guarde hum grande serviço a Deos se mandasse demulir todas as tapadas e coutadas desta freguezia de quarenta annos a esta parte e se puzesse tudo a monte commum como antigamente se conservava’.


Extraído de:
LEITE, Antero & LEITE, Maria Antónia Cardoso - Parada do Monte, História e Património. ACER.
IAN/TT–Memórias Paroquiais, vol. 27, memoria 58, pp. 383-388 (publicado em CAPELA,J.
Viriato - As freguesias do concelho de Melgaço nas Memorias Paroquiais de 1758-Alto
Minho: Memória, História e Património, Ed. C. M. de Melgaço, 2005).

quinta-feira, 25 de julho de 2013

10 de Maio de 1959 - "Morreu um Homem", assim se despede Melgaço do Dr. Júlio Outeiro Esteves (médico ilustre)







Honra aos que fizeram bem a esta terra na sua passagem por este mundo!



Fonte: Jornal "Notícias de Melgaço", edição de 10 de Maio de 1959.

Nota: Recortes amavelmente enviados por Armando Coelho Rodrigues

domingo, 21 de julho de 2013

A PROCISSÃO DOS DEFUNTOS e outras história do sobrenatural


“Morava eu com os meus tios. O meu tio, que se chamava Cândido, era um corpo aberto: falava sozinho..., arrastava os socos..., tinha, assim, um comportamento diferente, mas era boa pessoa.
Uma noite, estava eu a arrumar a cozinha, mesmo ali perto da janela que dava para um caminho que ia para Castro Laboreiro. Mesmo junto havia uma Capela do Santo Cristo. Eu estava, então, a arrumar a cozinha e fui abrir a janela. Por ali passavam as gentes de Castro Laboreiro para irem para as feiras. Eles iam às feiras da Barca, dos Arcos, e saíam à quarta-feira. Traziam os porcos, os animais e outras coisas. Lá ao fundo, na entrada da vila, havia um posto de gasolina onde as camionetas paravam para meter gasolina.
Quando era noite, as luzes, assim viradas para cima, para Castro, enchiam tudo de luz. Antigamente era tudo escuro..., não havia luz como agora! E eu ouvia os castrejos a rir e a falar, o ruído dos porcos... Era um divertimento! Naquele tempo não havia nada, nem rádio. Aquilo para mim era uma alegria.
O meu tio chegou à minha beira e disse: Rapariga! – Que é que me quer? - Fecha a janela! E eu respondi: Não fecho! Pois eu estava ali só a me divertir... Mas ele disse-me assim: ou fechas a janela ou levas uma bofetada! Ele nunca me tinha falado assim! Vi que era coisa grave e fechei a janela.
Fechei a janela e deixei-o ir para a sala. A sala era grande e ficava ao fundo da casa. Ele lá foi, com os socos a rasto e a falar sozinho... era seu hábito... hui!, quantas vezes eu já o tinha escutado a falar assim....
Mas depois, para me vingar dele, abri a janela. Ao abrir a janela vi aquelas luzes todas..., de varias cores: umas eram como a luz do sol, clarinhas; outras de um cor-de-rosa também clarinho; outras verdinhas..., mas muitas luzes! Diabo!». A gente quer-se ter mais que as outras, e afinal não somos. Quando nós julgamos que somos mais que as outras, não somos. Somos menos! E descemos um degrau ainda mais abaixo do que elas. E isto foi o que lhe aconteceu a ela!»
Quando fixei melhor o olhar, aquilo saltitava de um lado para o outro...; umas mais altas e outras mais baixas (os homens são mais altos e as mulheres são mais baixas.... Nos enterros vão homens e mulheres). E saltitavam e iam a correr ali pela estrada fora, pelo caminho. Eu fiquei assim um pouco tonta: isto não é uma procissão de velas...., não vejo nenhuma pessoa!, só vejo ali as velas. Como é que elas saltam? E depois na frente vi uma grande luz, e essa grande luz ia lá no alto, por cima de todas! No outro dia vi o enterro e compreendi: era o mordomo que ia à frente e levava o crucifixo lá no alto. E a cabeça do Santo Cristo, aquela imagem na cruz, parecia uma roda de luz como uma tigela cheia de luz, fluorescente. Tinha uma cor... assim um encarnado que não era bem encarnado... um cor-de-rosa ....
E aquela luz ia na frente e comandava as outras luzes. As outras iam todas atrás dela. E eu não tive medo nenhum! Hoje é estrada, mas antigamente era um caminho fundo. E aquelas luzes meteram-se para o caminho do cemitério, e foram desaparecendo com a outra luz lá em cima.
No dia seguinte morreu um homem que vinha lá à Quinta, que eu conhecia muito bem. Ele tinha trinta e três anos e deixou uma mulher com trinta e três, trinta e um anos, com dois filhinhos. Eu fui ver o enterro, na beira da estrada, e aí vi que o Cristo era mesmo a luz que ia lá em cima. Não disse nada ao meu tio porque tinha medo que ele me batesse, pois talvez ele pensasse que me acontecesse o mesmo que lhe acontecera a ele, como me contou a minha avó.
Quando ele tinha dezasseis anos, e diziam até que era um homem muito bonito.... Um dia vinha de tapar uma água ali para os lados do cemitério, com um bonito chapéu (daqueles redondinhos, como se usava naquele tempo) na cabeça. Então, passou por ele um grande cavalo branco que ia no caminho para Castro Laboreiro, e que atirou o chapéu dele para longe, e ele assustou-se! Assustou-se e ficou com o corpo aberto. Depois quando morria uma pessoa, ele sabia-o na véspera. Eu própria sou testemunha, pois a minha cama ficava encostada à parede do quarto ao lado do dele. De noite, ouvia-o gemer. E perguntava-lhe: Tio Cândido, o que é que teve ontem à noite? – Ah moça, eles «judiam» de mim..., botam a burra à camisa; a canga às calças.... judiam de mim!
Ele quando passou pelo cavalo ficou maluquinho. Mas a minha avó disse que fora com ele a uma mulher e que o fecharam com sete chaves de sete igrejas. Mas ele ficou sempre assim com o corpo aberto a estas coisas. Depois não era maluco, mas era assim bonzinho..., não se metia com ninguém. Via-se que, às vezes, com «a vista à ferida»... aquela vista, assim fixa nas pessoas... O maior sofrimento dele era à noite.
Sempre a gemer, queixava-se que as pessoas se metiam com ele:
«Judiam de mim!».
Um dia encontrei-o de baixo de uma «lata», assim deitado com os olhos abertos....Pensei que tinha tido um ataque: – Ó tio Cândido, vocemessê o que é que tem?
– Atiraram comigo..., atiraram comigo.... Passaram com uma burra muito grande... - Mas aqui não passa uma burra!
Atiraram comigo moça....”.

Extraído de:

CAMPELO, Álvaro - Caminhando pelo Mundo do Fantástico no Vale do Minho. “A Procissão dos Defunto”. Testemunho de Dª Conceição, de Melgaço, Paderne.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Aldeia do Bico (Castro Laboreiro) em documentário de realizador finlandês


Este filme realizado por Aki Kaurismäki no lugar de Bico, em Castro Laboreiro, concelho de Melgaço, faz parte de um conjunto de curtas-metragens inserido na longa-metragem Visões da Europa.

Em Maio de 2004, a União Europeia ganhou a adesão de dez novos países - a maioria nações do Leste Europeu, ex-membros do bloco soviético. A integração desse grupo aos 15 membros originais provocou um choque cultural e político na parte ocidental do continente. Na mesma época, a produtora Zentropa, de Lars Von Trier, encabeçou o projeto Visões da Europa. A ideia era produzir 25 curtas de diferentes cineastas sobre cada país membro, refletindo as suas visões sobre a atual integração europeia. A única restrição era o tempo, limitado a cinco minutos. A produção reuniu realizadores de estilos e reputações diversas. 
Muito provavelmente, ficaremos surpreendidos com a exposição do mundo rural de uma aldeia isolada como esta do Bico (Castro Laboreiro), filmado com o olhar frio mas acutilante do finlandês Aki Kaurismaki...


Ficha Técnica:
Realização, Argumento e Produção: Aki Kaurismäki
Diretor de Fotografia: Timo Salminen
Som: Jouko Lumme
Música: Abel Alves 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

A revolta das mulheres de Melgaço (1886)

Melgaço em 1886

Como se sabe, até meados do século XIX, os enterramentos em Portugal eram feitos no interior das igrejas. Esta situação foi alterada com os decretos de 21 de Setembro e 8 de Outubro de 1835, elaborados por Rodrigues da Fonseca Magalhães, nos quais o autor considera que os enterramentos no interior das igrejas eram próprios de uma “ignorância da Idade Média”.
Perante eles, o país dividiu-se: no centro e sul as populações, de imediato, começaram a construir cemitérios junto às igrejas, enquanto que nas populações do norte, em especial do Minho, as recusas em enterrar os mortos fora das igrejas eram constantes.
Foram várias as revoltas populares que ocorreram um pouco por toda a região do Minho, tendo particular destaque as que se verificaram em Alvarães (Viana do Castelo), Vilaça (Braga) e em Soutelo (Vila Verde). Mas a que nos interessa agora destacar é uma revolta que ocorreu em Melgaço.
Decorria a manhã do dia 16 de Fevereiro de 1886 (um domingo) quando, na igreja de Melgaço, tudo estava preparado para se realizar o funeral de um homem natural da freguesia de Prado (Melgaço).
Os boatos que tinham decorrido nos dias anteriores, segundo os quais a população estava a preparar-se para impedir que o defunto fosse sepultado no cemitério da vila, fez com que as autoridades desse concelho esperassem o pior. Nesse sentido, o administrador do concelho de Melgaço resolveu solicitar a presença, logo pela manhã desse dia 16 de Fevereiro, das forças militares, compostas por catorze elementos do regimento de Infantaria 10, de Melgaço, comandados pelo alferes Pires. A preocupação das autoridades de Melgaço era de tal ordem, que estas forças aguardaram a chegada do funeral à entrada da vila, junto à ponte.
Às 9.30 da manhã, hora em que terminaram as cerimónias religiosas, um grupo de mulheres presentes na igreja resolveu apoderar-se do defunto, enquanto que outras levantaram algumas tábuas do chão da igreja e começaram a abrir uma sepultura.
Perante isto, o administrador do concelho de Melgaço actuou de imediato, impedindo que as mulheres levassem as suas pretensões avante. Mas estas, indignadas, enveredaram por uma acção ofensiva, começando a ofender e agredir o administrador e outras autoridades presentes, através de murros e enxadadas, enquanto que outras mulheres começaram a tocar o sino da igreja, como sinal de alarme. O administrador, indignado, tentava por todos os meios impedir que as mulheres enterrassem o homem no interior da igreja e, nesse contexto, chegou mesmo a colocar-se dento da cova que as mulheres estavam a abrir.
Todavia as mulheres, em número cada vez maior, não desarmavam, retiraram o administrador e continuaram a abertura da cova. Perante esta afronta, o administrador deu ordem às forças militares que usassem a força, quando as mulheres proclamaram em uníssono que “Soldados não atiram contra mulheres!”.
Com dificuldade os militares conseguiram expulsar as mulheres do interior da igreja, mas ao chegarem à porta foram recebidos por uma enorme chuva de pedras, atiradas por outras mulheres e pelos seus maridos, que entretanto tinham sido chamados. Para além das pedras, surgiram muitas foices, paus e até tiros. Deste cenário, resultou o grave ferimento de dois soldados (um atingido com um tiro na cabeça e outro com uma enorme pedra).
O administrador, assustado e com as mãos na cabeça, deu ordem para que os soldados abrissem fogo. Mas as mulheres não desarmaram e gritavam que esses tiros eram de “pólvora seca”!
Verificou-se então um cenário absolutamente impensável: os soldados do interior da igreja a dispararem contra a multidão, que se encontrava no exterior. No meio desta confusão, foi morto um homem que tinha vindo buscar a sua mulher (que deixou 4 filhos); uma mulher atingida na face e várias foram feridas com gravidade. Até o padre foi atingido com uma bastonada, que o colocou na cama!
Só depois desta confusão, é que conseguiram sepultar no cemitério o defunto. Quanto à igreja, ficou repleta de pedras e manchada de sangue.
Este invulgar cenário fez com que o Arcebispo de Braga, D. António José de Freitas Honorato, publicasse uma portaria que obrigava o pároco de S. Lourenço de Prado, a proceder a preces públicas, durante três dias, tentando com isto reconciliar a Igreja com os seus paroquianos. 

Texto de: Joaquim Gomes
Consultado em: http://www.correiodominho.com/cronicas.php?id=450

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Vila de Melgaço (cerca de 1950) - vista da Torre de Menagem - Postal Antigo

Neste postal, podemos ver na sua frente uma fotografia parcial da vila de Melgaço a partir do topo da Torre de Menagem. Vemos em primeiro plano a Igreja Matriz da vila e uma parte da vila e a encosta que sobe em direcção à serra.
No espaço de mensagem no verso do postal, o remetente refere que chegaram bem a Melgaço e lamenta que não possa ter escrito algo mais cedo devido ao seu problema de reumatismo. De seguida, promete escrever uma carta quando tiver disponibilidade e manda cumprimentos ao destinatário e aos seus. 
Este posta foi enviado para Lisboa mas não tem carimbo de Estação de Correios. Provavelmente, foi entregue em mão por terceira pessoa ao destinatário.



sábado, 13 de julho de 2013

A rede de transportes e a fraca circulação de mercadorias em Melgaço na 2ª metade do século XIX



Se analisarmos o desenvolvimento da rede de transportes na segunda metade do século XIX, ela não é nada favorável à circulação de mercadorias do Norte Minhoto. Recordemos que a política dos governos liberais pós 1851 — a Regeneração — investiu excepcionalmente no sector das Obras Públicas: «com efeito, para finais do período (1888) tinham sido abertas mais de 10 000 Km de estradas e mais de 2000 Km de vias férreas» (CABRAL, 1979), sendo tais despesas «indicador interessante da maneira como as relações mercantis penetravam desigualmente no território do país» (CABRAL, 1979). Este factor de desenvolvimento ou, pelo menos, de mutações aceleradas a nível da economia rural, encontrava-se ainda em 1879 bastante pouco implantado ao nível do concelho de Melgaço. Há unicamente a estrada real n.º 23, que parte de Melgaço e atravessa as freguesias de Prado, Remões, Alvaredo e Penso, da Comarca de Melgaço e que está construída por ora até Valadares da Comarca de Monção. Dos 23 Km que separam Melgaço de Monção estavam, portanto, apenas construídos cerca de 10 Km de estrada a partir do primeiro.

Em 1886, a estrada que liga Monção e Valença é já referida, continuando por construir a ligação para a fronteira em Cristóval (S. Gregório) e Castro Laboreiro. No mesmo ano fica assegurada a ligação ferroviária de Valença com a linha do Minho (apesar dos insistentes pedidos, durante o Estado Novo, a linha nunca chegaria a Melgaço). Este lento desenvolvimento do «fontismo» no Distrito de Viana do Castelo, agravado pela posição excêntrica de Melgaço, terá pesado bastante na lentidão do desenvolvimento económico local, patenteado, aliás, pela pouca importância do equipamento funcional. A generalidade das lojas do distrito podem considerar-se antes como basares, onde se encontra à venda as mais variadas mercadorias, do que como estabelecimentos comerciais especialiados num tipo de produtos.

Informações extraídas de: 
- CABRAL, M. Villaverde (1979) — Portugal na Alvorada do séc. XX, Lisboa;
- DOMINGUES, Álvaro (1986) - Estrutura sócio-económica e mobilidade geográfica - Melgaço na segunda metade do séc. XIX. REVISTA DA FACULDADE DE LETRAS - GEOGRAFIA
I Série, Vol. I, Porto, p. 113 a 177.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Melgaço, 1912 - Postal da Pharmacia de Domingos Ferreira d' Araújo


Postal enviado em 1912 da farmácia Araújo para a empresa "Casimiro de Sousa Fontes & Filhos, Successor" do Porto. Esta farmácia existia já em 1892 tal como consta no semanário de Melgaço "Espada do Norte" em publicidade ao estabelecimento. A mesma pertencia a Domingos Ferreira d'Araújo, farmacêutico licenciado pela Escola Médico Cirúrgica do Porto. Neste postal, Domingos d'Araújo pede à dita empresa que lhe despache pelo comboio 12 mamadeiras para o seu stock.

Domingos Ferreira d'Araújo e família (talvez em 1915)
(Foto gentilmente partilhada por Teresa Lobato)

Fonte: Semanário "Espada do Norte" (publicação melgacense), nº 52 de 29 de Dezembro de 1892

quarta-feira, 10 de julho de 2013

A velhinha Capela de S. Julião (Melgaço): herança de uma primitiva gafaria

Capela de S. Julião (Melgaço)


As referências mais antigas a esta capela datam da primeira metade do século XIII e indicam que, neste local, ou anexa a ela, existia uma gafaria sob a invocação a S. Gião, que funcionava como local de acolhimento no caminho entre a vila de Melgaço e a ermida de Nossa Senhora da Orada. Segundo PINTO, L., (2002) a sua construção terá ocorrido durante o segundo terço do século XIII, enquanto ALMEIDA, C., (1950) refere que já existiria no reinado de D. Sancho II uma gafaria na quinta de S. Gião.
A capela que ainda hoje aqui subsiste pode bem ser o único testemunho dessa primitiva instituição. O facto de ser um edifício estilisticamente incaracterístico, situável no tempo gótico, mas destituído de elementos cronológicos identificadores, permite sugerir a hipótese de remontar à primeira metade do século XIII. Tal como é referido anteriormente, é dessa época a referência documental mais antiga do nosso conhecimento. Tal nos aparece no Livro de Datas do Mosteiro de Fiães de onde podemos citar este documento: “In dei nomine. Ego Alfonsus pelagii et uxor mea Marina Johannis facimus placitum de una orta nostra que iacet in ripa de regario qui currit inter Heerada et leprosos de Melgazo. Vobis domno martino et conventui de fenalis damus atque concedimus vobis ipsam ortam per alia vestra orta et per una domo quas nobis datis. ita ut per eis reddamus monasterio sancte marie de fenalibus anuatim. V. solidos. in die pasce. Qui hoc pactum rumpere voluerit pectet alteri parti vel cui vocem suam dederit. cc. solidos. et carta maneat in suo robore. Regnante rege domno santio in portugalia. Tenente valadares. M. Gil. in sede tuda. L. episcopo. Judices in melgazo. Rudericus Johannis. et rudericus menendi. Facta carta. Sub era. M. CC. LXX. VIII. Qui presentes fuerunt.” 
Este extrato pertence a uma escritura onde Afonso Pais e Marinha Eanes, sua mulher, trocam com D. Martinho, abade de Fiães, e seu mosteiro, uma horta sita junto do regato que corre entre a Orada e a gafaria de Melgaço, por outra horta e uma casa do referido mosteiro, ao qual deviam pagar também, anualmente, cinco soldos, no dia da Páscoa. No documento, falta a menção do mês e do dia desta permuta, mas sabe-se que o contrato foi realizado no reinado de D. Sancho II, sendo terra-tenente de Valadares Martinho Gil, bispo de Tui, D. Lucas, e juízes de Melgaço Rodrigo Eanes e Rodrigo Mendes e o notário é um tal Ordonho.
Desconhecemos qual a evolução desta gafaria pela Baixa Idade Média mas à semelhança do que aconteceu com a maioria das instituições privadas de solidariedade, ela viria a passar para a administração da Misericórdia de Melgaço em meados do século XVI. Se a pequena capela de São Julião é o templo da gafaria ou leprosaria medieval das imediações de Melgaço, então ela, nesse tempo, seria uma instituição muito pobre, e sem grande atividade. Num documento da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço da época, pode ler-se o seguinte: "na dita Vila havia um hospital que se chamava de São Gião que fora instituído para nele se curarem lázaros, os quais havia muitos anos que aí não havia e tinha o dito hospital certas propriedades que rendiam em cada um ano todas juntamente setecentos e trinta e dois réis (reais), e andavam mal aproveitadas e sem administrador a que de direito pertencesse a administração dele e que os provedores da comarca elegiam quem administrasse os bens do dito hospital e cumprisse os encarregos da Instituição dele, e lhe ordenavam por seu trabalho a quinta parte do dito rendimento” (transcrição em ESTEVES, A., 1950). 
Tendo como fundamento o seu mau funcionamento, em 1531, a Mesa da Confraria da Misericórdia de Melgaço solicitou, como já referimos, ao rei D. João III que lhe atribuísse a administração da dita gafaria, solicitação que só foi concretizada já na segunda metade do século XVI.
Um outro registo escrito que comprova a pequena dimensão desta gafaria data de 1544 onde se pode constatar que a mesma apenas tinha um gafo: “Aos catorze de Maio do ano de mil e quinhentos e quarenta e quatro deu Álvaro Aº (Afonso ou Araújo?) ao lázaro cento e oito réis (reais) perante mim, tabelião (Joam Gonçalves) ”.
Sabemos que em meados do século XVII, a capela estava muito arruinada e teve de ser reparada. Nesse sentido, parece que em 1656, essas obras já estariam concluídas. Nessa data, temos conhecimento da obrigação à fábrica da ermida de São Julião a favor do Provedor da Santa Casa da Misericórdia, o reverendo vigário de Paços, Miguel Aranha Pito e Pedro de Sousa de Castro e mais moradores. Os mesmos dizem que os seus antecessores fizeram uma petição para se dizer missa na ermida e que ela já estava ornada decentemente para que tal aconteça.
Conhecemos uma outra referência em documento datado de 22 de Setembro de 1658, na qual se comprova que a Santa Casa da Misericórdia, por essa altura, dotou a capela de São Julião de propriedades situadas atrás e abaixo da capela. Trata-se de uma escritura outorgada pelo vigário de Paços, padre Miguel Araújo Pita, provedor da Misericórdia e mais irmãos da sua mesa administradora no livro de notas de Domingos Francisco do Prado. Na dita escritura, pode ler-se que "...fazendo seus antecessores petição ao muito reverendo doutor João Moniz de Carvalho, provisor da Corte e arcebispo de Braga para efeito de se haver de dizer missa na ermida de São Julião, sita no arrabalde desta Vila, ordenada com imagem e o mais necessário, o dito reverendo Doutor por informação que disto mandara tomar, mandara que se juntasse escritura para que se obrigasse esta Casa da Santa Misericórdia com especial hipoteca à fábrica e ornato dela como mais largamente constaria na dita petição, pelo que ela para a fábrica e reparos e ornamentos e missas e culto divino da dita capela para nela se celebrarem as mais coisas necessárias queriam dotar como de feito logo dotaram de ora para todo o sempre jamais à dita ermida as propriedades seguintes: uma leira de vinha e herdade sita detrás da Ermida de São Julião que partia pela vereda que vai para a Orada e da outra parte com caminho que vai para Cavaleiros, e assim mais o campo e vinha sita abaixo da ermida de São Julião que levará de semeadura campo e vinha seis alqueires de pão pouco mais ou menos que parte do nascente com vinha de Pedro Esteves e do poente com campo de Domingos Gonçalves e com quem mais direitamente partir deva, as quais propriedades haviam por obrigadas à dita ermida e capela de hoje para todo o sempre jamais para a fábrica e ornato dela, os quais estariam sempre obrigados à dita ermida e capela e se obrigavam com suas pessoas e rendas e pensões da dita Casa da Misericórdia a terem e manterem e haverem por boa esta escritura e se fabricam a dita capela pelos bens acima nomeados e rendas desta casa e pedem por mercê ao dito reverendo doutor provisor".
Para a conservação da capela, um conjunto de obras se fizeram à custa da Misericórdia melgacense. Os livros da Santa Casa pouco adiantam para o conhecimento da sua ação de bem-fazer nesta época, mas o despacho do provisor lavrado no processo organizado sob as vistas do arcebispo é um excelente testemunho esclarecedor do estado de ruína da capelinha e talvez as suas palavras expliquem a causa de não se verem siglas em todas as pedras e o motivo de outras pequenas anomalias. (ESTEVES, A., 1950) 
Neste sentido, pode ler-se ainda no referido documento um interessante extrato que aqui se transcreve que nos faz desconfiar de um certo desleixo da Santa Casa no que toca à obrigação da boa conservação e ao culto nesta ermida de S. Julião: “na escritura se faz especial hipoteca mas não se declara o rendimento dos bens obrigados nela, mas visto que da obrigação da fábrica desta ermida a especial hipoteca não tira a geral com que na mesma escritura se obriga a Casa da Misericórdia por os ditos bens e pelas rendas da Casa a terem manter esta ermida e fábrica dela a julgo bastante e a si regista e se passa comissão visto haver sido arruinada e de novo reparada para o reverendo pároco a benzer na forma do ritual romano e que com isso se possa dizer missa nela...”. Claro que, não tendo base documental para tal, não sabemos a razão para tal desleixo.
Em 1711, é feita escritura de foro perpétuo da ermida de São Julião a João Gomes de Magalhães e a sua mulher Constança Mendes de Araújo feita pela Misericórdia de Melgaço. Não há menção à estrutura da antiga gafaria mas apenas à capela. Sabemos que em 1790, as primitivas instalações da velha gafaria já não existiam e já só restava a capela de S. Julião. É provável que o Hospital de gafos tenha desaparecido ainda durante o século XVII, dada a diminuição significativa da incidência de doenças como a lepra.
Em termos arquitetónicos, durante a Idade Moderna, não se procedeu a grandes modificações no templo, limitando-se a consolidar a anterior estrutura e a atualizar minimamente o principal elemento de devoção: o seu altar. É desta forma que podemos compreender o teto de ripas de madeira policromada, que ainda hoje cobre o interior, e o retábulo, já presumivelmente setecentista, executado em madeira e cuja montagem ocultou a fresta nascente da capela, uma peça de mobiliário litúrgico que, em 1984, estava já completamente podre.
Se o portal principal é em arco quebrado, coexistem, nesta capela, muitas características ainda assumidamente românicas, como a quase inexistência de iluminação (efetuada apenas por apertadas frestas) e a organização do telhado sobre cornijas decoradas com modilhões, estes dispostos assimetricamente no alçado e já sem qualquer decoração.
De estrutura muito simples, e dominado pela horizontalidade, a capela compõe-se de um compartimento único retangular coberto por teto de madeira e pavimento de terra batida, estando a mesa de altar integrada no mesmo espaço que a suposta nave, verificando-se, desta forma, uma uniformização interior que reforça a modéstia do plano.
A fachada principal foi o elemento que mereceu maior cuidado aos construtores, organizando-se com maiores dimensões, tanto em largura como em altura. O portal principal, de volta quebrada e arco único, possui aduelas levemente chanfradas, mas qualquer sugestão de monumentalidade foi afastada, pela inexistência de capitéis, bases ou degraus de enquadramento. Num plano superior, e em posição axial em relação ao portal, existe um pequeno nicho, hoje algo adulterado, destinado a albergar uma imagem devocional, entretanto presumivelmente desaparecida. A terminação da fachada é em empena triangular, elevando-se bem acima do teto da capela, solução que evidencia aquela ténue aparência monumental, que poderia ainda ser reforçada pela existência de um campanário, como equaciona ALVES, L. (1984).
Parcialmente intervencionada na década de 90 do século XX, numa campanha restauradora custeada pelo então proprietário, e cujos trabalhos se limitaram ao desmonte do retábulo e à desobstrução de arvoredo do edifício, a modesta capela de São Julião permanece como um testemunho da organização medieval desta região, simultaneamente da gafaria, dos caminhos medievais do Alto Minho e dos rumos da arte nos tempos de transição estilística entre o Românico e o Gótico.


Informações recolhidas em:
- ALVES, Lourenço (1984) - Do Gótico ao Manuelino no Alto Minho II - Edifícios religiosos, Caminiana, nº10, Caminha
- ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de (1987) - Alto Minho, Lisboa.
- ESTEVES, Augusto César (1950) Melgaço e as invasões francesas. Melgaço.
- PINTOR, Manuel Bernardo (1975) - "Melgaço medieval". Melgaço
- PINTO. Luís de Magalhães Fernandes (2002) - As siglas da capela de S. Julião ou um meio para a datar. Boletim Cultural de Melgaço, nº1, Melgaço.

- http://www.patrimoniocultural.pt.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A Igreja de Nossa Senhora da Visitação em Castro Laboreiro: características arquitetónicas

Igreja Matriz de Castro Laboreiro
(Foto de Daniel Jorge)

A Igreja Matriz de Castro Laboreiro, da invocação de Nossa Senhora da Visitação, é um pequeno templo de fundação ainda pré-românica, embora com grandes alterações posteriores. No edifício são visíveis várias fases de obras distintas, nomeadamente a da sua edificação primitiva, que alguns autores colocam no século IX, e da qual pouco resta. É possível identificar uma campanha gótica, e outra datada da segunda metade do século XVIII, da qual resultou a feição actual do monumento. 
Igreja de construção medieval, reformada possivelmente no século XVI, período de que deve datar a divisão da nave em tramos, marcados, exteriormente, por contrafortes e, interiormente, por arcos diafragma, denotando influência galega e como é comum surgir em zonas de fronteira portuguesas. Sofreu ainda reformas no século XVII, época de que deverão datar as pilastras dos cunhais coroados por pináculos, o remate das fachadas em friso e cornija e o púlpito, e no século XVIII, altura em que se construiu a sacristia, se abriram janelas na nave e capela-mor, e se fez o portal lateral sul, de moldura recortada. Este, é uma cópia tosca do portal norte da Igreja Paroquial de Santa Maria la Real de Entrimo, em território galego mas muito próxima de Castro Laboreiro, que poderá ter inspirado mais profundamente a reforma moderna da igreja de Castro Laboreiro. Destaca-se ainda a pia baptismal quinhentista, decorada com alto friso de flores-de-lis interligadas e, inferiormente, gomada. O retábulo-mor é neoclássico, mas apresenta alguns elementos de transição barrocos, nomeadamente na estrutura do trono e nas colunas definidores do eixo, com terço inferior estriado e o restante liso.
Esta igreja possui uma planta longitudinal composta por nave única e capela-mor rectangular, mais estreita, tendo adossado à fachada lateral norte, torre sineira quadrada, flanqueando a frontaria, e corpo que se prolonga ao longo da nave e capela-mor. Volume homogéneo na igreja, com cobertura indiferenciada em telhado de duas águas, e de uma, mais baixa, no corpo adossado e no prolongamento da primeira. Fachadas em cantaria aparente, de aparelho regular, tendo várias cruzes de via sacra relevadas, com cunhais apilastrados, coroados por pináculos piramidais com bola, e os ângulos das empenas rematados por cruzes latinas de cantaria, a da fachada principal com chanfro, sobre acrotério. Fachada principal orientada, terminada em empena, com friso e cornija, e rasgada por portal de verga recta, de falsas aduelas dispostas em cunha, sobrepostas na chave por ornato polilobado inscrito num círculo, ladeado por pilastras toscanas, pouco relevadas. Encima o portal em cornija recta, pequeno óculo quadrilobado e um nicho, em arco de volta perfeita, sobre pilastras, assentes em mísula de perfil contracurvado e formando pingente, interiormente concheado e desnudo e, superiormente, rematado por pinha. Junto à pilastra esquerda existe gárgula de canhão. Sensivelmente recuada à frontaria, surge a torre sineira, com duas ordens de pilastras toscanas sobrepostas nos cunhais, coroados por pináculos piramidais com bola, e com dois registos, marcados por friso e cornija, rasgando-se no primeiro, virada a oeste, porta de verga recta, moldurada, e, no segundo, em cada uma das faces, sineira em arco de volta perfeita, envolvida por moldura, albergando sino. Esta termina em friso e cornija, encimada a oeste por falso frontão sem retorno para conter o relógio, circular. Cobertura em coruchéu facetado, encimado por cata-vento de ferro. Fachadas laterais terminadas em friso e cornija, sobreposta por beirada simples, as da nave reforçadas por cinco contrafortes, quadrangulares e superiormente inclinados, os da fachada norte encobertos pelo anexo adossado, no qual se rasgam duas pequenas janelas rectangulares de capialço. Fachada lateral sul rasgada, junto ao friso, por duas janelas rectangulares de capilaço no primeiro, quinto e sexto panos da nave e por outras duas janelas, mais pequenas, na capela-mor, no meio das quais surge cartela ovalada inscrita com a data de 1775 encimada por cruz relevada. Todas as janelas são gradeadas. No terceiro plano abre-se portal de verga recta, com moldura recortada nos ângulos superiores, tendo a chave sobreposta por ornato concheado. Junto à pilastra do cunhal sudoeste da igreja surge relógio de sol circular, virado ao meio-dia, encimado por concheado. Fachada posterior com capela-mor cega terminada em empena, abrindo-se na sacristia janela. Interior com nave de paredes em cantaria aparente, de seis tramos marcados por cinco arcos diafragmas de volta perfeita, assentes em pilares circulares, com pavimento de madeira assinalando antigas sepulturas com as guias de granito, na zona central, e em lajes de granito, no restante, e tecto de madeira, de duas águas entre os arcos diafragmas. Coro-alto de madeira sobre dois pilares de cantaria, com guarda em balaústres de madeira e acesso por escada disposta no lado da Epístola. No sub-coro, entre os pilares, tem guarda-vento de madeira envidraçada, no lado da Epístola ampla pia de água benta gomada, encimada por nicho em arco de volta perfeita, interiormente concheada, e, no Evangelho, pia baptismal cilíndrica, com decoração em flores-de-lis estilizadas e relevadas, inferiormente formando gomos, sobre pé cilíndrico. Lateralmente, sensivelmente a meio da nave, surge, do lado do Evangelho, púlpito de bacia rectangular, sobre mísula, com guarda plena de madeira e acesso por porta de verga recta moldurada, e, no lado da Epístola, a porta travessa, com arco abatido encimado por arco de descarga, ladeada por duas pias de água benta gomadas encimadas por nicho em arco de volta perfeita. No lado do Evangelho, tem, no último tramo, porta de verga recta para o anexo, onde existem sanitários, com pavimento cerâmico, e, no lado oposto, no quinto tramo, capela em arco de volta perfeita sobre pilastras toscanas. Arco triunfal de volta perfeita, almofadado no intradorso, sobre pilastras toscanas, ladeadas por mísulas com imaginária e cerrado por teia de madeira. Capela-mor com paredes rebocadas e pintadas de branco, tendo no lado do Evangelho porta de acesso à sacristia e, no lado oposto, entre as janelas, pequeno nicho de alfaias. Retábulo-mor em talha policroma a branco, beje, azul e dourado, de planta recta e três eixos, definidos por duas pilastras caneladas exteriores e duas colunas de terço inferior canelado e de capitéis coríntios, assentes em dupla ordem de plintos paralelepipédicos, frontalmente ornados de motivos fitomórficos. Ao centro, abre-se tribuna de perfil curvo, com moldura fitomórfica dourada, de fecho saliente, albergando trono expositivo, de cinco degraus rectangulares, com chanfro canelado nos ângulos, ornados de elementos vegetalistas, ladeados por jarras com flores, e tendo o fundo pintado com glória de querubins e a inscrição IHS. Nos eixos laterais surgem apainelados, definidos por molduras de perfil abatido com acantos relevados no fecho e inferiormente, enquadrando mísulas com imaginária. Sobre o entablamento, com friso contendo florões, desenvolve-se o ático, adaptado ao perfil da cobertura, tendo ao centro espaldar com frisos e cartela de onde pendem festões, terminada em cornija rematada por acantos relevados. O espaldar é ladeado por urnas sobre as colunas e apainelados com motivos fitomórficos enrolados. O sotobanco tem portas de acesso à tribuna, de perfil curvo, molduradas e com motivos vegetalistas dourados, encadeados na vertical. Altar paralelepipédico sobre o qual existe sacrário tipo templete, com colunas nos ângulos e cúpula. Pavimento de granito e tecto em madeira, de perfil curvo. A sacristia é de pequenas dimensões e iluminada por um vão, tendo lavabo de espaldar rectangular.


Extraído de: www.monumentos.pt ( Textos de Paulo Amaral e Alexandra Cerveira 1999 / Paula Noé 2008)