terça-feira, 2 de outubro de 2012

A Praça Forte de Melgaço no contexto do sistema de defesa medieval do vale do Minho



O burgo de Melgaço tem a sua origem, como outras freguesias da região, na Alta Idade Média. Em meados do século XII, durante o reinado de D. Afonso Henriques, a administração real percebe a importante posição estratégica desta vila e em 1183 concede uma Carta Foral ao seu burgo. Nesta época a povoação ainda não possuía nenhum elemento defensivo e é composto unicamente por habitações e igrejas: Santa Maria da Porta, Santa Mariado Campo e São Facundo, esta última actualmente desaparecida. O castelo de Melgaço é uma estrutura defensiva erguida sobre uma colina que reunia em seu redor um casario que juntamente com a fortaleza moderna do século XVII forma um conjunto militar contraposto à torre de Crecente na Galiza.

Desenho de Duarte D' Armas

O castelo de Melgaço, juntamente com Valença, Monção, Caminha e Vila Nova de Cerveira faz parte de um linha de pontos fortificados na fronteira do Minho que participará directamente na configuração, na zona norte, dos limites da nação portuguesa e da sua separação do território Castelhano - Leonês. A primeira documentação histórica que menciona a Vila de Melgaço remonta ao reinado de D. Afonso Henriques que atribui o seu foral em 1183 à povoação de Melgaço. Este Rei, conhecedor da região, atribui grande valor, não apenas à sua situação fronteiriça com Galiza, mas também como defesa do espaço que ficava na retaguarda das linhas de penetração que davam acesso ao Lima e às capitais importantes, para as aspirações independentistas do Rei, como Braga e Guimarães. Relativamente à fortificação da Vila, a primeira menção é feita num documento do ano de 1199 no qual o rei D. Sancho I atribui ao Mosteiro de Longos Vales de Monção um couto que inclui uma torre em Melgaço que tinha sido construída pelo prior desse mosteiro. A fortificação de Melgaço esteve ligada num primeiro momento ao Mosteiro de Fiães, de cujo abade se dizia: "Nestes reinos ninguém, depois do rei, era mais rico que o D. Abade de Fiães" (ALMEIDA, 2002, 19). A defesa do território beneficiava os monges que eram acima detudo os receptores da parte das rendas da terra da zona. Por essa razão o mosteiro se verá obrigado a contribuir para a construção das defesas da vila.
Acerca da vila de Melgaço realizou-se, segundo César A. Esteves em três fases. O início teve lugar no lado nascente em 1205, na época do Rei D. Sancho I (ALMEIDA, 2002,21), o que leva a pensar na existência de uma cerca nesta época terminada em 1263, no reinado de D. Dinis (ESTEVES, 1952, 85). A primeira parte realizou-se na mesma época que a torre demenagem e depois da circunscrição do castelo.
A segunda fase seria o pano sul, realizado a partir de 1245, como se reflecte num documento de acordo entre o abade, os representantes reais e o concelho de Melgaço. A parte mais ocidental, até à união com o castelo, foi realizada em último lugar. A documentação histórica junta uma série de dados sobre a evolução da construção através de feitos bélicos e de relaçõe scom os abades de Fiães: Em 1212 sofreu uma invasão das tropas de Leão. No ano de 1245 continua-se a construir a cerca como se deduz do acordo entre o abade João de Fiães, os juízes João Pires de Caveiras e Miguel Fernandes e o concelho de Melgaço pelo qual o abade se comprometia aconstruir 18 braças (32,91 m) do muro e tomar a cargo a sua reconstrução em caso de deterioração. Também estava obrigado a levantar uma torre, possivelmente no castelo. Em contrapartida, o abade era encarregado de nomear, entre a fidalguia de boa reputação, o alcaide da Praça. Esta prerrogativa foi delegada em 1258 quando o rei D. Afonso III determinou que a nomeação ficasse a cargo da coroa, o que desagradou a população da vila que se insurgiu contra o decreto real que vinha alterar uma deliberação de Afonso Henriques. O rei ordena que se conclua a cerca, a cargo do erário real, o que sucede quando Martinho Gonçalves era alcaide e o mestre Fernando seu construtor, tal como se lê na inscrição da Porta de Baixo. Em 1261, a autoridade militar e a manutenção do castelo estava na mão do alcaide, a guarda ficava a cargo dos homens bons do burgo.
Em Março de 1388, motivada pela luta entre Castelhanos e Portugueses, na sucessão do Rei D. Fernando, reedificou-se uma torre, abrindo duas janelas no último piso convertido em habitação. Posteriormente reforçou-se o sistema militar da vila. Em 1391 devido ao facto da localização da vila no extremo norte do reino, despovoada e bastante arruinadanas suas defesas, o rei concede os benefícios das feiras para intervir na sua melhoria.
Já no século XIV realizou-se o fosso e a barbacã. O fosso  não era conhecido até à intervenção arqueológica levada a cabo na praça da República. A sua obra, posterior à construção do muro davila, foi mandada fazer em finais do século XIV pelo rei D.Fernando como se relata na crónica de Fernão Lopes "...e isso mandouhos reparar de muros e torrea e cavas darredor" .
Abarbacã foi construída, para defender o fosso, sobre afloramentos rochosos previamente aplanados. Na realidade existiam duas barbacãs, uma mais antiga rodeando o castelo e uma segunda que contornava a cerca da vila, esta barbacã já se encontrava muito danificada na época de Duarte de Armas e actualmente apenas subsiste um troço a norte. O assalto de 1388 demonstrou que a fortaleza era bastante vulnerável, sobretudo pelo lado oriental apesar de estar apetrechada com abarbacã e fosso. Nesta zona encontrava-se a Porta de Cima, a mais desprotegida por aceder a uma área topograficamente acessível. A construção da couraça tratava de garantir a aproximação segura a um ponto de abastecimento de água. Duarte de Armas, que a representa na sua obra, descreve-a como "Couraça nova" sem que fosse possível documentar a anterior. Relativamente à data da sua construção, documental e arqueologicamente a couraça de Melgaço é uma obra do século XV, possivelmente do reinado de D. João II. Esta couraça sofreu modificações no século XVII que foram possíveis de detectar nase scavações arqueológicas.
No século XVI foi construído um novo remate na torre com matacães e ameias como pode ser apreciado na representação, de 1512, da autoria de Duarte de Armas.

Extraído de: http://www.cieform.org


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