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António Rocha
Peixoto
1866-1909 Naturalista, etnógrafo, arqueólogo e bibliotecário |
António
Augusto César Octaviano da Rocha Peixoto nasceu a 18 de Maio de 1866 no n.º 20
da antiga Rua da Silveira (actual Rua Rocha Peixoto), na Póvoa de Varzim.
O
11.º dos 12 filhos de António Luís da Rocha Peixoto, médico, cirurgião e
militante miguelista, natural de Arcos de Valdevez, e de Constança Amélia da
Costa Pereira Flores, de Vila do Conde, foi baptizado na Igreja Paroquial de
Nossa Senhora da Conceição, a 21 de Maio.
Em
1874 ficou órfão de pai, acontecimento que dificultou grandemente a sua vida,
obrigando-o a trabalhar para prover o sustento da mãe e de três irmãs, ainda
antes de completar a formação académica.
Em
criança tinha um aspecto frágil que o ajudava a esconder um carácter dotado de
grande força de vontade. Estudou no Colégio de Nossa Senhora do Rosário, no
Porto, e, aos 15 anos de idade, ajudou a fundar a revista estudantil "Boletim
Litterario. Revista Académica Mensal", que produziu 3 números.
Em
1883, com dezasseis anos e sob o nome de Augusto César, publicou artigos
críticos sobre os Jesuítas no jornal da Póvoa de Varzim, intitulado "A
Independência", em resposta a Afonso dos Santos Soares, defensor confesso
da Companhia de Jesus.
No
ano seguinte, já estudava no Instituto Escolar de S. Domingos (depois
convertido na Escola Académica), nas proximidades da Rua da Sovela, no Porto,
tendo por condiscípulos António Nobre e Alexandre Braga.
Aquando
da mudança da Escola Académica para a Quinta do Pinheiro, conviveu com Hamilton
de Araújo, Fonseca Cardoso e Ricardo Severo, organizadores do "Grémio Oliveira
Martins".
Em
1887, na Academia Politécnica do Porto, fundou com Fonseca Cardoso, João Barreira, Ricardo
Severo e Xavier Pinho a "Sociedade Carlos Ribeiro". Este grupo, ao
qual se juntou Basílio Teles, António Arroio, António Nobre e Augusto
Nobre, reunia-se numa casa na zona do
Moinho de Vento para debater a crise nacional. Destas reuniões resultou a
publicação da "Revista de Sciencias Naturaes e Sociaes", entre 1890 e
1898, dirigida por Rocha Peixoto, Ricardo Severo e Wenceslau
de Lima.
Nesses
tempos de estudante, Rocha Peixoto publicou artigos a folhetos sobre a
degradação do Museu Municipal do Porto, colaborou em opúsculos e jornais, como
"O Primeiro de Janeiro", do Porto, e "O Século", de Lisboa,
e também participou em tertúlias musicais, tocando guitarra, tendo mesmo chegado
a compor uma valsa intitulada "Lavandisca".
Rocha
Peixoto participou na Tumulto de 31 de Janeiro de 1891, como nos conta Basílio
Teles na sua obra "Do Ultimatum ao 31 de Janeiro: esboço d' historia
política". Nela refere que Peixoto e Ricardo Severo, na manhã desse dia
histórico, o convocaram para aparecer na Foz para o pôr a par dos
acontecimentos. Os três vistoriaram o centro do Porto, para se inteirarem das
movimentações das tropas fiéis ao Governo, e Rocha Peixoto escreveu um
manifesto dirigido à população civil, em especial ao operariado, com o intuito
de instigar a agitação social e assim perturbar a Guarda Municipal. Com a
consciencialização do fracasso desta sublevação, Basílio Teles e Ricardo Severo
deixaram Rocha Peixoto e centraram-se na busca de auxílio para os revoltosos.
Foi
secretário da "Revista de Portugal" (1891-1892), dirigida por Eça de
Queirós, organizou o "Catálogo de Mineralogia, Geologia e Paleontologia:
Extracto do Annuário de 1890-91", da Academia Politécnica do Porto. Em
1893 passou a ser sócio da Academia das Ciências e desempenhou o cargo de
bibliotecário no Ateneu Comercial do Porto (1893-1900).
Em
1895 começou a colaborar com a "Revista d'Hoje" e recebeu o diploma
de académico da Classe de Ciências Matemáticas, Físicas e Naturais.
Pela
altura da extinção do grupo "Sociedade Carlos Ribeiro" e da
"Revista de Sciencias Naturaes e Sociaes" (1898), Rocha Peixoto
leccionava Geografia e Ciências Físico-Naturais na Escola Industrial Infante D.
Henrique, no Porto.
Em
1899 associou-se à nova revista "Portugália", de carácter
nacionalista, que tomou o lugar da "Revista de Sciencias Naturaes e
Sociaes". Esta publicação, dirigida por Ricardo Severo, contava com
Fonseca Cardoso, como secretário, e com Rocha Peixoto, como redactor-chefe e
articulista.
Em
meados de 1900 foi nomeado Conservador do Museu Municipal do Porto, então
instalado num edifício da Rua da Restauração, e, em 28 de Junho desse ano,
acumulou esse cargo com o de Director da Biblioteca Pública Municipal do Porto,
de que foi Director Interino entre 1900 e 1904 e Director Efectivo entre 1904 e
1909.
A
sua relação com o Museu Municipal era anterior à sua entrada na instituição,
pois, ainda estudante na Academia Politécnica do Porto, escrevera sobre o seu
estado ruinoso, no título "O Museu Municipal do Porto (História
Natural)" e no artigo "O Museu da Restauração" publicado n'
"O Primeiro de Janeiro", em 1893. Em 1894, no mesmo jornal, sugeriu
que a edilidade portuense comprasse a colecção de faiança de Guerra Junqueiro
e, em 1897, integrou uma comissão de estudo da reorganização do museu e da sua
instalação num novo edifício.
Durante
a comissão de serviço no Museu, organizou as diversas secções do acervo desta
instituição, a saber, a de Mineralogia, de Paleontologia, de Etnografia, de
Arqueologia, de Artes Decorativas e de Numismática, melhorou os espólios de
pintura e de azulejo e promoveu obras no edifício. Em 1902, com Joaquim de
Vasconcelos, criou o "Guia do Museu Municipal do Porto", iniciou a
transferência do Museu para as suas novas instalações, anexas à Biblioteca
(1902-1905), e dotou-o de peças provenientes do Mosteiro de Santa Clara de Vila
do Conde, iniciativa que levantou alguma polémica.
No
período em que presidiu aos destinos da Biblioteca, fomentou profundas obras de
restauro do edifício, a reorganização dos seus serviços e a reforma e
modernização da classificação e catalogação dos livros. Criou três pequenas
bibliotecas no Porto (no Bonfim, em Cedofeita e na Foz, com título modernos
existentes em duplicado na B.P.M.P.), favoreceu doações às bibliotecas da Póvoa
de Varzim e de Ponte de Lima e, ainda, mandou colocar nas paredes do claustro
da Biblioteca Pública (antigo claustro do convento de Santo António da Cidade)
azulejos quinhentistas e barrocos, oriundos de extintos conventos do Norte de
Portugal (de Santa Clara e de São Bento de Ave Maria, do Porto, de Santa Clara
e de S. Francisco, de Vila do Conde, de Grijó, em Vila Nova de Gaia, etc.).
No
final de 1901 foi nomeado naturalista-adjunto da secção de Mineralogia da
Academia Politécnica do Porto e, em 1903, foi enaltecido pelo Ministro Luís
Augusto Pimentel Pinto, juntamente com os outros responsáveis da revista
"Portugália".
Em
1908 passou uma temporada nas termas do Peso de Melgaço, onde fez amizade com
um grupo de utentes da estância termal, entre os quais se destacavam o Dr.
Teixeira de Sousa, de Chaves, o Dr. Silva Gaio, Secretário da Universidade de
Coimbra, e o artista portuense António Carneiro. A esse grupo chamou "Academia".
Apesar
da ligação académica, cultural e profissional ao Porto, Rocha Peixoto nunca
deixou de manter um forte vínculo à sua terra natal, comprovado pelos estudos
sobre o património arqueológico, histórico, e etnológico da Póvoa de Varzim.
Foi responsável pelas primeiras escavações da Cividade de Terroso, do Castro de
Laúndos e da vila de Martim Vaz, envolveu-se na questão da naturalidade de Eça
de Queirós e empenhou-se na defesa da comunidade piscatória poveira, que
influenciou, entre outros, os trabalhos de Fonseca Cardoso (estudo
antropológico sobre os pescadores da Póvoa, editado na "Portugália",
em 1908), de Cândido Landolt (livro sobre o Folk-Lore da Póvoa de Varzim, de 1915)
e de António dos Santos Graça ("O Poveiro", de 1932). Não é,
portanto, de estranhar, que tenha legado a sua biblioteca, constituída por mais
de 2.000 títulos, à Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim.
Este
notável naturalista, professor, antropólogo, etnólogo e escritor faleceu em
Matosinhos, vítima de tuberculose aguda seguida de uma crise, a 2 de Maio de
1909.
Na
altura da sua morte trabalhava no Porto como naturalista-adjunto da Academia
Politécnica, como Director da Biblioteca Pública e do Museu Municipal do Porto
e, ainda, como professor de Geografia e de Ciências Físico-Naturais da Escola
Industrial Infante D. Henrique.
Do
Cemitério de Agramonte, no Porto, onde foi sepultado, o seu corpo foi
trasladado para o Cemitério da Póvoa de Varzim, em 16 de Maio de 1909, a pedido
da Câmara Municipal poveira.
Fonte:
Universidade
Digital / Gestão de
Informação, 2010
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