Manoel da Costa foi um dos
primeiros oficiais da Igreja Presbiteriana do Brasil. Nasceu no dia 21 de junho
de 1846 em Beleco de Passos, Melgaço (província do Minho), em Portugal, a
pequena distância da fronteira espanhola. Em novembro de 1859, aos treze anos,
deixou a pátria, aportando no Brasil em janeiro de 1860. Dirigiu-se para
Caldas, Minas Gerais, ali chegando no dia 7 de abril. Quatro anos depois, em
março de 1864, foi residir em São Gonçalo do Sapucaí, onde se casou em 22 de
abril de 1865 com Florisbela de Azevedo Costa (ele com 19 anos e ela com 13).
Em 1866, mudou-se para Águas Virtuosas (Lambari), onde no ano seguinte nasceu o
primogênito Guilherme.
Em 1870, mudou-se para a Serra de
Santos, como empregado da São Paulo Railway. Converteu-se em 1874, através da
leitura da Bíblia, sendo recebido por profissão de fé e batismo no dia 6 de
dezembro daquele ano pelo Rev. George W. Chamberlain, na Igreja Presbiteriana
de São Paulo. Florisbela foi recebida em 7 de março de 1875, em companhia do
futuro Rev. Eduardo Carlos Pereira. No dia 21, batizaram os filhos Guilherme,
Elisa e Alberto. Manoel deixou o emprego na estrada de ferro por causa do
trabalho no domingo e tornou-se comerciante. Teve um armazém na rua Santa
Efigênia, transferindo-o em 1879 para a rua dos Andradas.
Foi eleito diácono da Igreja de
São Paulo em março de 1876, e presbítero em 3 de outubro de 1880, sendo
ordenado no dia 9 de janeiro de 1881. Tornou-se assim o segundo presbítero
dessa igreja histórica, organizada em 1865. O primeiro havia sido o inglês
William Dreaton Pitt, ordenado em 22 de dezembro de 1867, que ingressou no
ministério em 1869 e faleceu no ano seguinte. Foi somente a partir de Manoel da
Costa que a Igreja de São Paulo teve com regularidade o ofício de presbítero.
Foi um presbítero exemplar,
secretário do conselho por muitos anos e tesoureiro da igreja. Representou a
sua igreja na organização do Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil, em 1888,
e em muitas reuniões de concílios. Fez parte da primeira comissão permanente do
Plano de Missões Nacionais (1888) e foi o seu segundo tesoureiro (1890-1899),
em substituição ao Rev. Antônio B. Trajano. Também atuou como tesoureiro do
Seminário Presbiteriano. Foi um dos membros fundadores do Presbitério de São
Paulo, criado pelo Sínodo e instalado no dia 14 de setembro de 1888, sendo o
único presbítero ao lado dos Revs. George Chamberlain, Donald McLaren, George
Landes, Emanuel Vanorden, Modesto Carvalhosa, Eduardo Carlos Pereira, João
Ribeiro de Carvalho Braga e Manoel Antônio de Menezes. Foi ainda um dos
principais fundadores do Hospital Samaritano (1892), atuando nos trabalhos de
organização, construção, administração e sustento dessa entidade.
Manso e humilde, mas firme em
suas convicções, era combativo nos concílios e na imprensa presbiteriana. No
Sínodo de 1900, manifestou o seu dissentimento contra o critério geográfico
adotado para a delimitação dos Presbitérios de São Paulo e Oeste de São Paulo.
Duas igrejas da capital ficaram no primeiro presbitério e a outra no segundo.
Manoel da Costa assim se expressou: “O abaixo assinado respeitosamente dissente
da decisão do Sínodo, dividindo a cidade de S. Paulo, ficando assim a pertencer
a dois Presbitérios, o que julga contrário ao espírito do Evangelho”. Essa
divisão resultou das controvérsias da época, centralizadas em torno do Rev.
Eduardo Carlos Pereira, pastor da Igreja de São Paulo. No culto de ação de
graças pela vida do Rev. George Chamberlain, realizado no Mackenzie em 23 de
agosto de 1902, Manoel da Costa falou em nome da Igreja de São Paulo.
No Sínodo de 1903, em que se
dividiu o presbiterianismo brasileiro, Manoel pronunciou-se contra a maçonaria,
mas também se opôs à divisão da igreja. Propôs o seguinte substitutivo a uma
proposta do Rev. Álvaro Reis: “Que o Sínodo declarasse a incompatibilidade
[entre a fé evangélica e a maçonaria], que recomendasse aos crentes que se não
filiassem à instituição, e que fossem tolerados os crentes maçons até que Deus
os esclarecesse”. Votou com a maioria, com restrições, fundamentando o seu voto
que ficou nas atas do Sínodo: “O abaixo-assinado, votando sim no último parecer da comissão de
papéis e consultas, não concorda, entretanto, com os seus considerandos por
entender que a maçonaria é incompatível com o Evangelho”.
Apesar de não concordar com a
divisão da denominação, continuou a freqüentar por algum tempo a Igreja de São
Paulo, agora filiada ao movimento independente. Em 1886 havia voltado pela
primeira vez a Portugal, onde procurou propagar o evangelho. Residiu por quatro
meses em Melgaço, sua terra natal, e pregou várias vezes em Caminha. Fez nova
visita à pátria em 1892-1893. Pouco depois do cisma presbiteriano, foi pela
terceira e última vez ao seu país de origem. Voltando ao Brasil, residiu em Juiz
de Fora de 1905 a 1915, mudando-se no ano seguinte para Mogi das Cruzes. Dona
Florisbela faleceu aos 69 anos em 2 de janeiro de 1922.
Manoel da Costa destacou-se como
um crente e presbítero piedoso, pontual e zeloso.
O respeito pelo Dia do Senhor foi
uma das características da sua vida. Outro destaque foi a sua liberalidade. Por
volta de 1882 fez o voto de dar ao Senhor todos os seus dízimos. Prometeu
também a Deus que, se chegasse a possuir 50 contos de réis, o excedente seria
aplicado para fins evangelísticos e beneficentes. Disse e fez. Ofertou em sua
vida 106 mil réis (dízimos mais o excedente dos seus bens). Era o “dizimista n°
5” em sua igreja. Acima de tudo, foi um homem de oração. Alguém disse: “Quando
a igreja mais precisa de oração, os primeiros joelhos que se dobram são os de
Manoel da Costa; quando mais precisa de dinheiro, a primeira bolsa que se abre
é a sua”. No interesse da causa de Cristo, participou de reuniões de outras
denominações (metodista, batista, cristã evangélica, etc.).
Foi também um grande evangelista.
Quando mais moço, dirigiu cultos de propaganda nos bairros. Foi professor da
classe de adultos da sua igreja por muitos anos e dirigiu uma classe bíblica na
Associação Cristã de Moços. Durante algum tempo manteve uma escola dominical em
sua casa, aos domingos à tarde, na rua dos Andradas. Escreveu e publicou 18
folhetos, distribuindo-os amplamente. São eles: “Primeiro passo para a
salvação”, “Uma conversa”, “Salvação de graça”, “Salva-te sem demora”, “Uma
carta aos pretos libertos”, “Aos empregados no comércio e aos artistas”, “Amor
e simpatia de Jesus para com os pecadores”, “A grande naturalização e a grande
salvação”, “Extrato do folheto Trabalho e Economia”, “Jesus Cristo é o nosso
maior amigo”, “O domingo não é nosso”, “O dízimo não é nosso”, “A oração do
justo”, “Uma despedida ao povo”, “O plano de Deus para a nossa salvação”, “A
cura do corpo e a cura da alma”, “Aviso aos espíritas sinceros”. O primeiro foi
traduzido para o italiano (“Primo passo verso la salvazione”) e distribuído
largamente entre os imigrantes em São Paulo.
Em 1921, adotou para uso diário a
oração do salmista: “Faze-me conhecer, Senhor, o meu fim e o número dos meus
dias qual é, para que eu saiba o que resta” (Salmo 39.4, Versão Figueiredo). Em
21 de junho de 1922, ao completar 76 anos, estando presente o filho Alberto,
ajoelharam-se e agradeceram a Deus por ter-lhe concedido mais um ano de vida,
com saúde e na sua graça. Usaram esta expressão: “Não peço que me prolongues a
vida, mas somente os dias que forem para tua glória”. No dia 14 de julho, Deus
respondeu à oração que vinha fazendo desde 1921, dando-lhe a entender que ainda
teria três anos de vida. Mais tarde, concluiu que Deus lhe daria outros três
anos (até 13 ou 14 de julho de 1928). Por fim, acreditou ter recebido nova
prorrogação de um ano, o que se confirmou com diferença de um dia.
No dia 6 de julho de 1929, seu
filho Alberto e o presbítero Luiz Del Nero foram a Mogi das Cruzes e o levaram
para a casa de Alberto em São Paulo. O ancião contraiu pneumonia. No dia 11, já
enfraquecido, levantou-se para que tirassem o seu retrato. Faleceu no dia 15 de
julho, às 8:44 da manhã. O sepultamento ocorreu no dia seguinte. Na residência
oficiaram os Revs. Otoniel Mota e Bento Ferraz; no Cemitério do Redentor,
Otoniel Mota e Salomão Ferraz.
O casal Costa teve 19 filhos,
quase todos falecidos na infância ou no início da idade adulta. Um deles,
Guilherme da Costa, foi consagrado pastor metodista (faleceu no Rio de Janeiro
em setembro de 1904, numa epidemia de varíola); Elisa foi casada com José
Rodrigues da Costa, de Itapira; Ermelinda casou-se com o Rev. Simão Salem. Seu
filho Alberto J. R. da Costa, que foi diácono e presbítero da Igreja de São
Paulo, escreveu um opúsculo intitulado A Vida de Meu Pai. O Rev.
Bento Ferraz também o homenageou com o escrito Manoel
José Rodrigues da Costa – In Memoriam. O Rev. Eduardo Carlos
Pereira dedicou-lhe um estudo em folheto, “A fidelidade de Deus ou trabalho e
economia”, no qual exaltou o seu caráter.
Extraído de:
http://www.mackenzie.br/10195
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