"Pelos
annos de 1660, durante a guerra da Restauração, hindo Gregorio Vaz, natural
d’esta freguezia de Roussas, e soldado do exercito portuguez, com mais dois camaradas,
reconhecer os movimentos do exercito castelhano, que se achava acampado nos
Arcos (Galliza), cabiram todos trez em poder do inimigo.
Gregorio
Vaz, invocou o patrocinio de Nossa Senhora da Graça, e prometteu-lhe, se o
livrasse da morte, de ser eremitão da sua capella, e de a servir toda a vida.
Filippe
IV, mandava enforcar todos os prisioneiros que cahiam nas garras dos seus
soldados, e os nossos trez portuguezes tiveram a mesma sorte.
Gregorio
foi o ultimo a ser enforcado, mas a corda partiu-se e o desgraçado cahiu no
chão, sem sentidos, e com a garganta horrivelmente ferida.
Foi
julgado morto, e, como os seus camaradas, foi abandonado aos pés da forca; mas,
quando no dia seguinte vieram os frades franciscanos para lhes darem sepultura,
acharam Gregorio sentado, encostado a uma mão, e tendo na outra umas contas.
Os
frades tambem eram castelhanos, e portanto, tão inimigos dos portuguezes como
as tropas do Diabo do Meio Dia, e, em vez de terem caridade com tão grande
infeliz, o entregaram ao carrasco, que lhe deu duas lançadas, que o
atravessaram do peito ás costas.
Os
frades o levaram a enterrar, mas, pelo caminho, viram que elle dava ainda
signaes de vida. D’esta vez, emfim, attribuiram o caso a milagre, e o curaram.
Foi
depois remettido para Corunha (então capital da Galliza), e mettido em um
carcere. Filippe IV teve noticia d’este facto, e attribuindo-o tambem a
milagre, fez o milagre (ainda maior) de o mandar soltar, e deixar vir em paz
para Portugal. Gregorio cumpriu o voto e foi viver para junto da ermida da
Senhora, como seu eremitão, mudando o nome para Gregorio da Graça, e alli
falleceu de avançada edade, pois ainda vivia em 1712, quando frei Agostinho de
Santa Maria publicou o 4.° volume do seu Santuario Mariano. Ainda então
conservava as cicatrizes das feridas.
Isto
consta de documentos que existem na secretaria das Mercês, e de um alvará,
assignado por D. Pedro II, e pelo qual o rei mandou dar a Gregorio da Graça um
tostão por dia, para seu sustento."
In: PINHO LEAL, Augusto Soares d'Azevedo
Barbosa de Portugal Antigo e Moderno Lisboa, Livraria Editora Tavares Cardoso
& Irmão, 2006 [1873] , p.Tomo VIII, p. 218
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