Igreja da Misericórdia da vila de Melgaço |
A Misericórdia de Melgaço (terra do senhorio de Bragança)
viu-se confrontada com os feridos desta guerra logo no ano de 1641. Os irmãos
ordenaram a compra de “mesinhas” necessárias para se curarem duas mulheres
pobres pobres que os galegos feriram e maltrataram na freguesia de Cristóval
quando entraram para queimar a dita freguesia”.
No ano seguinte, em 1642, a Misericórdia foi contactada pelo Desembargador
Gregório de Valente e Morais para proceder ao tratamento de militares enfermos.
Os mesários concordaram mas lamentavelmente não puderam tratar gratuitamente,
como desejavam, por a Santa Casa não possuir rendimentos para o efeito. Por
isso, contentavam-se com o “socorro aos soldados nos dias em que estiveram
enfermos”. Declararam ainda que o pagamento das mezinhas necessárias aos
militares corria por conta da Coroa e que não tratariam soldados aquartelados,
porquanto o cirurgião não aceitava esse encargo pelo ordenado de 18 mil réis anuais que recebia.
Não temos conhecimento das diligências posteriores
havidas entre a Coroa e a Santa Casa, mas em 1643, os mesários acordaram na
obrigatoriedade dos irmãos nomeados visitarem os soldados aquartelados que
estivesses doentes e de darem conta da ocorrência ao cirurgião. Esta passagem
prova que a confraria tinha cedido na cura
de militares que estavam nos quartéis e em casas particulares.
Mau grado as dificuldades sentidas, a Misericórdia de
Melgaço procurava agir com normalidade e cumprir os rituais a que estava
habituada. Em 1645, os mesários acordaram fazer as festividades da semana santa
e resolveram “que pera os novellos se escolha o linho pior e parte do outro que
se asede e que delles se façam os novellos para quinta feira maior e que o
outro linho bom se venda para fazer toalhas e amitos”. O tempo impunha
racionalidade e parcimónia nas despesas, mas a confraria não deixou de celebrar
esta quadra em tempo de guerra.
Extraído de:
- ARAÚJO, Maria Marta Lobo (2005) - Pedir para distribuir: Os peditórios e os mamposteiros da Misericórdia de Melgaço na época moderna. Boletim Cultural de Melgaço, Câmara Municipal de Melgaço.
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