Segundo Augusto Cesar Esteves, o edifício da Casa da
Quinta da Calçada remonta à primeira década do séc. XVIII e teria sido mandado
construir por Jerónimo José Gomes de Abreu Magalhães, “sargento-mor das
Ordenanças, provedor da Misericórdia, ministro leigo da Confraria do Espírito
Santo tendo-lhe sucedido na administração do morgadio o seu primogénito,
homónimo, Jerónimo José Gomes de Abreu Magalhães, casado que foi com D. Tereza
Joaquina Rosa de Melo Almada e Vasconcelos, oriunda do Paço de Montes Livres,
em Silvares, Guimarães” (Esteves, 2003). Tendo estes falecido sem deixarem
descendentes, a Casa da Calçada passou a pertencer ao irmão daquele, o Dr. João
Caetano Gomes de Abreu Magalhães sucedendo-lhe seu filho, Luís de Abreu
Magalhães, o “último morgado da Casa” (Vaz, 1985).
Inserida em quinta, em meio urbano periférico, esta
construção solarenga apresenta um conjunto arquitectónico em U pouco
pronunciado, composto por dois corpos laterais unidos, à mesma altura, a um
corpo central mais recuado e com telhado de duas águas, prolongando-se uma
delas de modo a cobrir uma alpendrada que compõe a frontaria voltada a sul. O
corpo do lado nascente desenvolve-se longitudinalmente com cobertura a quatro
águas e o corpo do lado poente, rectangular, encontra-se coberto a três
águas.
O edifício, construído em alvenaria autoportante de
granito, subdivide-se em dois pisos rebocados e pintados a branco excepto
embasamento, cunhais, cornijas, molduras e ornamentos que apresentam pedra ‘à
vista’.
Os vãos são constituídos, no andar térreo ou de serviços,
por portas adinteladas e no piso superior, de habitação, por janelas de
peitoril com padieira ligeiramente encurvada nas fachadas sul dos corpos
laterais e adintelada nas fachadas laterais dos mesmos. Nas fachadas frontais
destes corpos, no nível superior e enquadrado pelas janelas, encontra-se uma
pedra de armas. A do corpo do lado nascente “representa Abreu, Magalhães e a do
corpo do lado poente pode ler-se como Costa, Gomes, Abreus e Magalhães” (Vaz,
1985).
No nível térreo do corpo central abre-se uma entrada em
arco pleno que daria acesso a arrecadação e, no piso superior, estende-se a
referida alpendrada e peitoril em granito aparente. Perpendicularmente a esta e
adossadas às paredes dos corpos laterais, lançam-se duas escadarias em pedra,
de acesso à galeria, estando resguardadas, num dos lados, por parapeito fechado
iniciado por volutões.
Quando contemplado, do início do caminho, partindo da
estrada e marginado por muros rebocados a branco, constata-se neste solar um
grande equilíbrio nas proporções dos diferentes corpos. A horizontalidade dos
alçados, aliada à pouca altura das cérceas, confere-lhe uma escala
humanizada e uma certa imaterialidade induzida pela alvura das paredes
misturando-se com o caio das telhas de meia cana que cobrem todo o edifício.
Para o Arq. Luís Magalhães Fernandes Pinto, a Casa da
Calçada e o Pazo de Pegullal (em Salcedas, Galiza) “apresentam uma
aparência que nos permite aceitar terem sido construídas segundo uma técnica
comum e, talvez, sob o mesmo plano. Apresentam plantas em U, de proporções e
dimensões idênticas, com dois corpos intercalando uma alpendrada, em que as
variações significativas se concentram no lançamento e exuberância das escadas.
Na comparação das suas organizações internas encontra-se a referida
diferenciação de organograma, isto é, preferência de cenário numa (a da Casa da
Calçada), prioridade ao conforto, na outra (o Pazo de Pegullal)” (Pinto,
1999).
Informações recolhidas em:
CERVEIRA, Alexandra/DGEMN - Casa da Quinta da Calçada, n.º
IPA: PT011603180012, 1999. Disponível em WWW: <www.monumentos.pt>.
ESTEVES,
Augusto César - Obras completas. Melgaço e as Invasões Francesas, reed. C. M.
de Melgaço, Melgaço, 2003, Vol. 2.
ESTEVES,
Augusto César - Melgaço. Sentinela do Alto Minho, Ed. Tipografia Melgacense,
Melgaço, 1957 e 1959, Vol. 1 e Vol. 2.
PINTO, Luís de
Magalhães Fernandes - O Vale do Minho. Pazos e Solares. Dois modos diferentes
de habitar, in Revista ‘Estudos Regionais’, n.º 19/20, Viana do Castelo,
Dezembro 1999, p. 43-58.
VAZ, Júlio -
P.e Júlio Vaz apresenta Mário, Edição do Autor, Melgaço, 1996.
www.
acer-pt.org
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