Antiga Ponte Internacional de S. Gregório/Ponte Barxas sobre o rio Trancoso em 1903 |
Em Portugal, a
República foi implantada em 5 de Outubro de 1910. A reação monárquica à
implantação da República sucedeu quase de imediato. E o rosto dessa
contra-revolução foi o militar condecorado, católico fervoroso e monárquico
convicto Henrique Mitchell de Paiva Couceiro. Refugiado na Galiza, Paiva
Couceiro foi o cérebro de duas incursões falhadas no Norte do País, em 1911 e
em 1912.
Em 1911, a revista “O
Occidente”, na sua edição de 20 de Outubro alude para a presença ameaçadora dos
monárquicos na Galiza prontos para uma invasão pela fronteira norte portuguesa,
especialmente por Melgaço e Monção. Na dita publicação, pode ler-se que “É
entre estas vilas portuguesas, da província do Minho, que se defrontam com
Galisa, que se vê a velha ponte romana, compondo o cenário extremamente
pitoresco de toda a região do nosso lindo Portugal.
São
estas duas vilas, Melgaço e Monsão, das mais históricas do Minho, por feitos
heróicos dos seus filhos nas guerras em defesa da integridade da pátria contra
os assaltos de seus visinhos de Espanha.
Então
como agora são as terras de fronteira que despertam as atenções do público por
serem o campo de acção dos que conspiram contra o novo regime.
Refugiados na Galisa, mercê do governo de Espanha que lhes dá quartel, os
conspiradores portuguêses tentaram passar as fronteiras pelo Minho, antes de o
fazerem agora por Traz-os-Montes, realisando de facto a incursão das suas
forças por Vinhaes, entre Chaves e Bragança.
O
insucesso dessa incursão foi noticiado pelos telegramas, mais ou menos
contraditórios sobre os resultados da aventura, sendo, todavia, certo que houve
recontro com as tropas do governo, em que de parte a parte se deram ferimentos
e até mortes.
Entretanto os conspiradores não lograram seu intento, e debandaram novamente
para a fronteira da Galisa, onde parece que se conservam uns, enquanto outros
desanimados dispersaram-se abandonando seus camaradas, à frente dos quaes se
encontra Paiva Couceiro.
Agora
voltam novamente suas vistas para o Alto Minho, tentando entrar em Portugal por
algum destes postos de fronteira.
Não é
fácil prever quanto durará tal situação desde que estas incursões tomaram o
caracter de guerrilhas, como em tempos, que já lá vão, aconteceu com os
celebres Remichido e Galamba, nas lutas liberaes, que por muito tempo
inquietaram e não pouco prejudicaram as provincias do Alentejo e do Algarve,
especialmente.
A
Historia vae, infelizmente repetindo-se. É o mesmo povo, é o mesmo país, são as
mesmas paixões, e quasi um seculo decorrido, parece tudo encontrar-se na mesma
ignorancia e por isso no mesmo fanatismo!"
Uma outra publicação
da época, “O Carbonário”, na sua edição de 2 de Julho de 1911, mostra-nos o
depoimento de um tal Botelho de Sousa que terá conhecimento de apreensões de
armas na Galiza para serem passadas para Portugal e outro armamento que terá
mesmo conseguido passar a fronteira. Essa apreensão teria sido feita por
republicanos espanhóis. O mesmo Botelho de Sousa refere que “se não fosse a sua vigilância aturada,
todo esse armamento tinha passado a fronteira, como estou convencido que
passaram outras remessas numerosas, que a esta hora estão acoitadas em logar
seguro”. Então, o jornalista pergunta: “Em que região?” Botelho de Sousa esclarece: “Em várias... Mas, estou convencido de que, se procurarem em Suajo,
Peso de Melgaço e Monsão, lá encontrarão alguma cousa...”
Nestes anos após a
implantação da República, os monárquicos refugiados na Galiza levaram a cabo
uma série de incursões e escaramuças em território português na zona raiana e
em particular em Melgaço. Exemplo dessas incursões são os ataques realizados
por parte do monárquicos aos postos da Guarda Fiscal de Castro Laboreiro e S.
Gregório em 1912. Estes acontecimentos foram notícia em jornais franceses. No
periódico “La Presse”, na sua edição de 1 de Maio de 1912, encontramos a
seguinte notícia:
”Ofensiva dos
monárquicos portugueses”
Movimentações na
fronteira
Lisboa, 30 de Abril – O Novidades publicou um despacho de Monção, de 29 de Abril, dá-nos conta
que alguns monárquicos terão assaltado um posto da Guarda Fiscal em Castro
Laboreiro, na fronteira portuguesa, e retirou-se de seguida para Espanha. A
guarnição de Monção já foi contactada.
Porto, 30 de Abril – Existe o rumor de que os monárquicos portugueses, exilados
em La Cañiza, invadiu S. Gregório, na fronteira. Eles invadiram o escritório de
alfândega e retiraram-se de seguida para La Caniza. Reforços de tropas serão
enviadas para a fronteira.”
Jornal "La Presse", cabeçalho da sua edição de 1 de Maio de 1912 |
Jornal "La Presse", edição de 1 de Maio de 1912, corpo da notícia citada |
Num outro jornal francês, o “Le
Temps”, na sua edição de 1 de Maio de 1912, dá-nos conta dos mesmos
acontecimentos na seguinte notícia:
“PORTUGAL
Incursões
realistas
O Novidades de
Lisboa publicou um despacho de Monção, na fronteira com a Galiza, onde dá
conta que um grupo de exilados realistas portugueses assaltaram um posto da
Guarda Fiscal em Castro Laboreiro, e fugiram para Espanha logo de seguida.
A guarnição de
Monção foi contactada.
De acordo com
outra versão atualizada no Porto, um grupo de monárquicos exilados na Galiza
fizeram uma incursão em S. Gregório, junto à fronteira. Invadiram o posto da
Guarda Fiscal e roubaram as armas, regressando a La Caniza logo de seguida.”
Jornal "Le Temps", cabeçalho da sua edição de 1 de Maio de 1912 |
Jornal "Le Temps", edição de 1 de Maio de 1912, corpo da notícia citada |
As incursões dos monárquicos em
território português iriam continuar até à derrota da Monarquia do Norte em
1919...
Informações recolhidas em:
- “La Presse”, edição de 1 de Maio de 1912.
- “Le Temps”, edição de 1 de Maio de 1912.
- “O Carbonário”, Semanário
Republicano Radical. Nº 32; Edição de 2 de Julho de 1911.
- “O Occidente, Revista Ilustrada de Portugal e do Estrangeiro. Nº 1181; 20
de Outubro de 1911.
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