sábado, 23 de janeiro de 2016

Os ataques à Guarda Fiscal de S. Gregório e Castro Laboreiro nos jornais franceses (1912)


Antiga Ponte Internacional de S. Gregório/Ponte Barxas sobre o rio Trancoso em 1903

Em Portugal, a República foi implantada em 5 de Outubro de 1910. A reação monárquica à implantação da República sucedeu quase de imediato. E o rosto dessa contra-revolução foi o militar condecorado, católico fervoroso e monárquico convicto Henrique Mitchell de Paiva Couceiro. Refugiado na Galiza, Paiva Couceiro foi o cérebro de duas incursões falhadas no Norte do País, em 1911 e em 1912.
Em 1911, a revista “O Occidente”, na sua edição de 20 de Outubro alude para a presença ameaçadora dos monárquicos na Galiza prontos para uma invasão pela fronteira norte portuguesa, especialmente por Melgaço e Monção. Na dita publicação, pode ler-se que “É entre estas vilas portuguesas, da província do Minho, que se defrontam com Galisa, que se vê a velha ponte romana, compondo o cenário extremamente pitoresco de toda a região do nosso lindo Portugal.
   São estas duas vilas, Melgaço e Monsão, das mais históricas do Minho, por feitos heróicos dos seus filhos nas guerras em defesa da integridade da pátria contra os assaltos de seus visinhos de Espanha.
   Então como agora são as terras de fronteira que despertam as atenções do público por serem o campo de acção dos que conspiram contra o novo regime.
   Refugiados na Galisa, mercê do governo de Espanha que lhes dá quartel,  os conspiradores portuguêses tentaram passar as fronteiras pelo Minho, antes de o fazerem agora por Traz-os-Montes, realisando de facto a incursão das suas forças por Vinhaes, entre Chaves e Bragança.
   O insucesso dessa incursão foi noticiado pelos telegramas, mais ou menos contraditórios sobre os resultados da aventura, sendo, todavia, certo que houve recontro com as tropas do governo, em que de parte a parte se deram ferimentos e até mortes.
   Entretanto os conspiradores não lograram seu intento, e debandaram novamente para a fronteira da Galisa, onde parece que se conservam uns, enquanto outros desanimados dispersaram-se abandonando seus camaradas, à frente dos quaes se encontra Paiva Couceiro.
   Agora voltam novamente suas vistas para o Alto Minho, tentando entrar em Portugal por algum destes postos de fronteira.
   Não é fácil prever quanto durará tal situação desde que estas incursões tomaram o caracter de guerrilhas, como em tempos, que já lá vão, aconteceu com os celebres Remichido e Galamba, nas lutas liberaes, que por muito tempo inquietaram e não pouco prejudicaram as provincias do Alentejo e do Algarve, especialmente.
   A Historia vae, infelizmente repetindo-se. É o mesmo povo, é o mesmo país, são as mesmas paixões, e quasi um seculo decorrido, parece tudo encontrar-se na mesma ignorancia e por isso no mesmo fanatismo!"
Uma outra publicação da época, “O Carbonário”, na sua edição de 2 de Julho de 1911, mostra-nos o depoimento de um tal Botelho de Sousa que terá conhecimento de apreensões de armas na Galiza para serem passadas para Portugal e outro armamento que terá mesmo conseguido passar a fronteira. Essa apreensão teria sido feita por republicanos espanhóis. O mesmo Botelho de Sousa refere que “se não fosse a sua vigilância aturada, todo esse armamento tinha passado a fronteira, como estou convencido que passaram outras remessas numerosas, que a esta hora estão acoitadas em logar seguro”. Então, o jornalista pergunta: “Em que região?” Botelho de Sousa esclarece: “Em várias... Mas, estou convencido de que, se procurarem em Suajo, Peso de Melgaço e Monsão, lá encontrarão alguma cousa...”
Nestes anos após a implantação da República, os monárquicos refugiados na Galiza levaram a cabo uma série de incursões e escaramuças em território português na zona raiana e em particular em Melgaço. Exemplo dessas incursões são os ataques realizados por parte do monárquicos aos postos da Guarda Fiscal de Castro Laboreiro e S. Gregório em 1912. Estes acontecimentos foram notícia em jornais franceses. No periódico “La Presse”, na sua edição de 1 de Maio de 1912, encontramos a seguinte notícia:
”Ofensiva dos monárquicos portugueses”
Movimentações na fronteira
Lisboa, 30 de Abril – O Novidades publicou um despacho de Monção, de 29 de Abril, dá-nos conta que alguns monárquicos terão assaltado um posto da Guarda Fiscal em Castro Laboreiro, na fronteira portuguesa, e retirou-se de seguida para Espanha. A guarnição de Monção já foi contactada.
Porto, 30 de Abril – Existe o rumor de que os monárquicos portugueses, exilados em La Cañiza, invadiu S. Gregório, na fronteira. Eles invadiram o escritório de alfândega e retiraram-se de seguida para La Caniza. Reforços de tropas serão enviadas para a fronteira.”

Jornal "La Presse", cabeçalho da sua edição de 1 de Maio de 1912


Jornal "La Presse", edição de 1 de Maio de 1912, corpo da notícia citada


Num outro jornal francês, o “Le Temps”, na sua edição de 1 de Maio de 1912, dá-nos conta dos mesmos acontecimentos na seguinte notícia:

“PORTUGAL
Incursões realistas

O Novidades de Lisboa publicou um despacho de Monção, na fronteira com a Galiza, onde dá conta que um grupo de exilados realistas portugueses assaltaram um posto da Guarda Fiscal em Castro Laboreiro, e fugiram para Espanha logo de seguida.
A guarnição de Monção foi contactada.
De acordo com outra versão atualizada no Porto, um grupo de monárquicos exilados na Galiza fizeram uma incursão em S. Gregório, junto à fronteira. Invadiram o posto da Guarda Fiscal e roubaram as armas, regressando a La Caniza logo de seguida.”

Jornal "Le Temps", cabeçalho da sua edição de 1 de Maio de 1912

Jornal "Le Temps", edição de 1 de Maio de 1912, corpo da notícia citada


As incursões dos monárquicos em território português iriam continuar até à derrota da Monarquia do Norte em 1919...



Informações recolhidas em:
- “La Presse”, edição de 1 de Maio de 1912.
- “Le Temps”, edição de 1 de Maio de 1912.
-  “O Carbonário”, Semanário Republicano Radical. Nº 32; Edição de 2 de Julho de 1911.

- “O Occidente, Revista Ilustrada de Portugal e do Estrangeiro. Nº 1181; 20 de Outubro de 1911. 

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