Decorria o ano de 1808. Portugal sofria a segunda invasão francesa comandada pelo marechal Soult. Na obra de José Hermano Saraiva, este fala-nos como Melgaço foi a primeira praça portuguesa a revoltar-se contra os invasores franceses: "Em
Melgaço, a revolta contra os franceses declara-se a 9 de Junho, a aclamação do
príncipe é marcada para o dia seguinte, porque não existe na vila nenhuma
bandeira portuguesa. O primeiro acto revolucionário consiste por isso na
convocação dos alfaiates para confeccionarem as bandeiras que devem ser
hasteadas na cerimónia solene da restauração. Na torre do castelo arvora-se a
insígnia da guerra, e pouco depois corre o rumor de que o juiz de fora a
mandara arriar. Isso provoca o furor dos camponeses, que assaltam a vila
dispostos a matar o magistrado. A notícia não tinha fundamento. Em muitos
lugares se verifica a mesma desconfiança popular contra as autoridades
legitimas.
No dia seguintes,
vieram também incorporados o Corregedor de Milmanda, o Abade de Esteriz e
outras pessoas distintas da Galiza; e sendo dia de feira em Melgaço, e por isso
de um numeroso concurso, os portugueses se unem aos espanhóis, e em presença do
Juiz de Fora, que os observava no próprio campo da feira, soltam alegres vivas
ao Príncipe Regente e detestações violentas contra Napoleão e seus delegados.
Imediata ao campo da feira está a porta da vila, sobre a qual se achavam
cobertas as Armas Reais; o povo as descobre num momento; passa depois a fazer o
mesmo às da casa da Câmara e da fonte da vila; e para que a obra não ficasse
imperfeita, o Corregedor de Milmanda com uma partida dos seus foi também
descobrir as fonte de S. João da Orada, que ficavam em alguma distância. Tomás
José Gomes de Abreu, Jacinto Manuel da Rocha Pinto, o Capitão mor João António
de Abreu e o Doutor Miguel Caetano foram dos primeiros, e mais activos, que
trabalharam nesta empresa, mas tiveram muitos outros companheiros que mostraram
o maior patriotismo."
Extraído de: SARAIVA,
José Hermano - História de Portugal.
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