segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A edificação do Convento de Nossa Senhora da Conceição de Melgaço I



"Mas porque a devoção dos principais da vila se não satisfaziam com a erecção da venerável Ordem Terceira, e tudo era pedir ao sobredito Provincial religiosos que lhe viesse assistir, determinou o ministro provincial para este efeito ao Irmao Pregador frei Francisco da Trindade, com o Irmao frei Paulo da Soledade ex leitor de Moral para que como Comissarios da mesma Ordem residissem na mesma vila e dela fossem tambem assistir a de Moncao, enquanto se nao dava outra providencia. Para satisfazer pois a obediencia do Prelado que assim o determinava, chegaram a esta vila os ditos religiosos a 29 de Julho do sobredito ano de 1746 e enquanto se nao preparavam umas casas que descobriram neste Campo da Feira para poderem assistir se hospedaram em casa de Silvestre Teixeira Torres, que era um dos mais empenhados na sua vinda para esta vila e a quem o sobredito Provincial tinha mandado patente de sindico dos mesmos religiosos (...) Compostas as casas conforme pedia a Nossa Santa pobreza foram os dois companheiros morar para elas e juntamente provendo-se pouco a pouco do necessario com um Irmao Donato, que lhes assistia a fazer a Cozinha (...) depois de vir para o Hospicio o Irmao Pregador Frei Andre de Jesus Maria (...) sucedeu chegar a porta do hospicio um homem pobre, no que mostrava, perguntando pelo sindico dos Padres que nao achara em casa, para lhe entregar um dinheiro. Sabido o recado eram vinte moedas de 4.800, que lhe entregara em Lisboa um homem de Roucas, chamado Pedro Fernandes da Silva, sem mais seguranca, nem cautela, que um escrito com elas embrulhado, em que dizia: que se entregassem aquelas vinte moedas a Silvestre Teixeira para as obras dos Padres Capuchos e passasse recibo (...) Ajustado que foi o sitio vieram os pedreiros de Lanhelas a ve-lo, e feita a planta se fez o ajuste da Capela Mor com o primeiro dormitorio que e dobrado, em quinhentos mil reis, e depois com os acrescimos que houve passou a seiscentos (...) Principiaram os pedreiros a arrancar a pedra a 10 de Outubro de 1748. Lancou-se a primeira pedra no cunhal da Capela Mor da parte da vila a 28 de Novembro do mesmo ano (...); e depois de acabadas as paredes se lancou a primeira pedra no cunhal do dormitorio tambem da parte da vila, a 30 de Maio de 1749 e acabada por 12 de Dezembro do mesmo ano; e depois de se cobrir tudo, de se forrar e fazer as taipas e algumas janelas, fizemos a nossa muda das casas do Campo da Feira para o novo hospicio a 8 de Setembro de 1750 (...) Acomodados no novo hospicio, entramos a fazer as janelas mais precisas e reparos para o Inverno, que foi o mais rigoroso que ha muitos anos tinha vindo, e sendo um dos principais reparos os telhados seguros ja com cal, foi tanta a violencia do vento pelos grandes temporais, e desamparo do sitio, que se alagaram as celas da parte do poente em agua, de sorte que nao tinhamos os Religiosos donde escapar da chuva, senao em algumas celas que ficavam da outra parte contraria, e assim passamos o inverno com muito trabalho e desconsolacao, enquanto nao chegou tempo oportuno para dar outra providencia aos telhados, como se deu no verao seguinte mandado vir os homens mais experimentados do termo de Viana, que ao mesmo tempo que fizeram o estuque da Capela Mor, tambem deram volta aos telhados, fazendo-os dobrados como se veem da parte do temporal, da mesma sorte que os da Capela, e com isso se pos remedio as coisas. Ja por este tempo se tinha encomendado a imagem da Conceicao, em Ponte do Lima, e como em Viana se tinha feito a tribuna nova com intuito de darem para esta Capela a antiga, se fez conduzir este mesmo verao, de sorte que quando vieram os caiadores ja ela estava assentada (...) Irmao Pregador Frei Manuel de Sao Francisco, natural de Grovelaz, termo da Barca, que foi mandado de Caminha onde acabara de guardiao para Regente deste Hospicio tomando posse dele nos ultimos dias deste mes de Dezembro do mesmo ano de 1751. E com as esmolas, que a Divina Providencia lhe ia administrando, a deligencia que alguns religiosos zelosos ia fazendo, continuou com a obra de paredes desde a Cozinha, ate fechar na Capela Maior, conduzindo com grande trabalho todas as traves, que foram necessarias de Parada do Monte e do lugar das Cavencas de Riva de Mouro (...) Maio de 1753, em que saiu eleito para Regente deste Hospicio o Irmao Pregador Frei Felix de Santa Teresa, natural de Ponte do Lima (...), e solhou o meio dormitorio, desde a cozinha ate a Casa ultima, fez as taipas, e celas e concluiu a Casa ultima no estado em que se acha. Fez tambem o muro desde a Capela da Pastoriza ate a volta que fez em roda da tomada de Caetano de Abreu. O qual muro continuou depois o Irmao Pregador Frei Manuel de Sao Francisco ate o canto da Cruz de pedra, que esta para a parte da Pigarra (...) e plantou de novo o pomar com varias arvores de fruto no ultimo canteiro da mata, que fica onde esta a Cruz de Pedra (...) Foi eleito em seu lugar o Irmao Pregador Frei Jose da Madre de Deus, natural de Viana, que no seu tempo forrou e pintou o refeitorio como se acha, solhou e forrou a sacristia e o mesmo fez ao de Profundis, solhou o dormitorio que corre da Casa ultima ate a capela mor, deixou encomendadas as imagens da Madre de Deus com seu Menino e Sao Jose, e tambem a Senhora da Escada; pos o relogio com seu sino, que mandou fazer (...) como tambem a custodia, e os melhores ornamentos que nela se acham procurou quem pagasse toda a telha para a Igreja alem de muitas e grandes esmolas que diligenciou por pessoas devotas para continuacao das obras".
(continua) ...

Extraído de:
- FIGUEIREDO, Ana Paula Valente (2008) - Os Conventos franciscanos na real província da Conceição - análise histórica, tipológica, artística e iconográfica. Tese de Doutoramento em Arte, Património e Restauro, FLUL, Lisboa.

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