quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A edificação do Convento de Nossa Senhora da Conceição de Melgaço II



Altar Principal da Igreja do Convento

No capitulo seguinte que se celebrou em Viana aos 29 de Setembro de 1757 (...) se tornou a eleger para Presidente o Irmão Pregador Frei Francisco da Trindade (...) o qual tomou posse aos 15 de Outubro do mesmo ano começou a rezar em coro aos 13 de Novembro, dia do Patrocinio de Nossa Senhora para que com ele tivesse principio e bons progressos as principais funcoes de uma Casa tanto sua, o que fez em uma cela que e a do canto do dormitorio que esta para a vila, e principiando a demolir a penha em que foi fundada a Igreja pelo mes de Fevereiro de 1758 se lancou a primeira pedra junto a porta da Via-Sacra, e se benzeu aos 13 de Abril com assistencia da Comunidade que ja constava de 12 Religiosos; onde e de notar que havendo sobre esta penha em que a Igreja foi fundada um lajão que servia de eira com sua casa para recolher palhas, que tudo tinha rematado por uma divida de trinta mil reis o Capitao Manuel Goncalves Gomes, da Vila de Caminha, e a deu de esmola aos religiosos, como antes disto ficava tao distante se serviam da eira e juntamente do palheiro, nao só os vizinhos, e quem se queria aproveitar deles para as suas colheitas, mas tambem aqueles: quorum Deus venter esto: para nelas fazerem sacrificios a Baco, e a Vénus, de noite e de dia. E depois, por acaso e sem misterio, veio a ficar o coro no mesmo sitio, e na altura em que estava o palheiro, dispondo-o assim a divina providência para que ficasse desagravado o lugar em que de dia e de noite fora Deus ofendido com o continuo desempenho com que de dia e de noite Deus fora louvado; pois havendo uma grande questão entre os religiosos fundadores que queriam a Igreja mais para a parte do monte para lhe ficar mais campo, e os pedreiros que a queriam fundar onde agora e o refeitorio para fugirem da penha, a bom concerto veio a ficar, aonde agora se acha, vindo a cair o coro no mesmo lugar do palheiro. Em fim demolida a penha a ferro e fogo e levado o entulho com muito trabalho para o norte da mata se foi pondo a obra em bons termos (...) outro Presidente (...) que foi o Irmao Pregador Frei Manuel dos Serafins (...) E continuando com a Igreja solhou a Capela Mor, acabou a Igreja de pedraria, parte do madeiramento, acabou a torre e colocou nela o sino, deixou feitas as vidracas da janela do coro e as das quatro frestas do corpo da Igreja, etc., e concluiu o seu governo no capitulo feito a 30 de Agosto de 1760, no qual foi canonicamente eleito o primeiro Guardiao deste novo Hospicio e se lhe deu o titulo de Convento com obrigação de regular, como nas mais da Provincia (...) Foi novamente eleito em primeiro Guardiao deste novo Convento (...) Irmao Frei Inacio de Santo Antonio (...) E tanto que tomou posse nesta Casa deste novo cargo, que foi pela especial devoção que tinha ao glorioso Sao Jose na Dominga 2.a de Outubro, dia em que reza a Igreja do seu Patrocinio, cuidou logo em fechar a clausura exterior para evitar na arca devassidões, e invasões de gados, e seculares, enquanto se dispunham as coisas para clausular o interior, e para aquele fim fez os muros da cerca da parte do norte, e quinta da Pigarra ate a fonte, tendo aqueles quatro palmos de grosso, e em partes mais de doze de alto e de comprido setenta e duas bracas e um quarteirao (...) coloca colocando sobre o cunhal do novo muro da parte da Galiza, uma cruz de pedra de 6 palmos de alto e a benzeu. (...) continuou o seu zelo em socalcar grande parte do pomar e pondo nos socalcos escadas para suave descensu dos religiosos, copando-o de ruas e plantando nelas novo bacelo das melhores castas para a seu tempo se tecerem latas, mandando enxertar as fruteiras que havia e acrescentando o pomar. Para este efeito sachou um grande pedaco de mata que assombrava o pequeno pomar que tinha plantado o Irmao Regente Frei Manuel de Sao Francisco de que acima faz mencao, e lho acrescentou com muitas novas arvores, das melhores frutas, e belos enxertos que de fora vieram, e todos os religiosos por fora pediram, pelo grande gosto que do acrescimo do pomar tiveram, e no canteiro por cima se principiou com laranjeiras e limoeiros, que se puseram um ordinario pomar de espinho, que se vai com diligencia continuando. Coparam-se as ruas da mata de castanheiros postos ao cordel e em toda ela muitos carvalhos se plantaram ocupando com este inumeravel zelo todo o Inverno, chegou finalmente o Marco do seguinte ano de 1761 e nele se concluiu o madeiramento, cambotaria da Igreja e seu faiscado, e ripado e toda a carpintaria do coro, com tal diligência que a 9 de Abril deram principio as obras de colher e rebocadores.
Continuando os rebocadores com diligencia a sua empreitada em toda a Igreja a 4 de Julho do mesmo ano a tinham telhado, estucado, rebocado e caiado toda e neste mesmo dia que caiu em sabado, a Mae de Deus dedicado, se fechou a porta da nova Igreja e a Portaria (...)
No primeiro de Agosto, que tambem caiu no sabado, a nossa Patroa dedicado, primeiro dia do singular jubileu da Porciuncula, apareceram os tres altares da nova Igreja concluidos de urnas, banquetas e os seus Santos nestes colocados Nos colaterais: da parte do Evangelho fica a Senhora das Dores, que e o do Sacrario; na parte da Epistola, o glorioso Santo Antonio e se lhe pôs de novo o seu resplandor de prata e tambem ao seu Menino, feitos a moderna e este se fez privilegiado com deputacao do Ordinario segundo o Breve do Senhor Papa Benedito 14 (...)
No Altar da Capela do Cruzeiro se colocaram o Menino Deus no ternissimo Misterio do Nascimento de uma parte a Madre de Deus, e da outra o gloriosos Sao Jose, ambos de roca e de estatura proporcionados e se vestiram custosamente de tudo o necessario (...) e se puseram as cimalhas de talha a moderna, no cimo das frestas da capela mor, e da mesma lisa se fez o pulpito, e se solhou todo o Arco Cruzeiro ate a grade; e para esta se assentar se fez um degrau de esquadria; e por baixo outro no olivel do pavimento da Igreja para os caixilhos das sepulturas (...)
(continua)

Extraído de:
- FIGUEIREDO, Ana Paula Valente (2008) - Os Conventos franciscanos na real província da Conceição - análise histórica, tipológica, artística e iconográfica. Tese de Doutoramento em Arte, Património e Restauro, FLUL, Lisboa.


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