Altar Principal da Igreja do Convento
No
capitulo seguinte que se celebrou em Viana aos 29 de Setembro de 1757 (...) se
tornou a eleger para Presidente o Irmão Pregador Frei Francisco da Trindade
(...) o qual tomou posse aos 15 de Outubro do mesmo ano começou a rezar em coro
aos 13 de Novembro, dia do Patrocinio de Nossa Senhora para que com ele tivesse
principio e bons progressos as principais funcoes de uma Casa tanto sua, o que
fez em uma cela que e a do canto do dormitorio que esta para a vila, e
principiando a demolir a penha em que foi fundada a Igreja pelo mes de
Fevereiro de 1758 se lancou a primeira pedra junto a porta da Via-Sacra, e se
benzeu aos 13 de Abril com assistencia da Comunidade que ja constava de 12
Religiosos; onde e de notar que havendo sobre esta penha em que a Igreja foi
fundada um lajão que servia de eira com sua casa para recolher palhas, que tudo
tinha rematado por uma divida de trinta mil reis o Capitao Manuel Goncalves
Gomes, da Vila de Caminha, e a deu de esmola aos religiosos, como antes disto
ficava tao distante se serviam da eira e juntamente do palheiro, nao só os
vizinhos, e quem se queria aproveitar deles para as suas colheitas, mas tambem
aqueles: quorum Deus venter esto: para nelas fazerem sacrificios a Baco, e a Vénus,
de noite e de dia. E depois, por acaso e sem misterio, veio a ficar o coro no mesmo
sitio, e na altura em que estava o palheiro, dispondo-o assim a divina providência
para que ficasse desagravado o lugar em que de dia e de noite fora Deus
ofendido com o continuo desempenho com que de dia e de noite Deus fora louvado;
pois havendo uma grande questão entre os religiosos fundadores que queriam a
Igreja mais para a parte do monte para lhe ficar mais campo, e os pedreiros que
a queriam fundar onde agora e o refeitorio para fugirem da penha, a bom
concerto veio a ficar, aonde agora se acha, vindo a cair o coro no mesmo lugar
do palheiro. Em fim demolida a penha a ferro e fogo e levado o entulho com
muito trabalho para o norte da mata se foi pondo a obra em bons termos (...)
outro Presidente (...) que foi o Irmao Pregador Frei Manuel dos Serafins (...) E
continuando com a Igreja solhou a Capela Mor, acabou a Igreja de pedraria,
parte do madeiramento, acabou a torre e colocou nela o sino, deixou feitas as
vidracas da janela do coro e as das quatro frestas do corpo da Igreja, etc., e
concluiu o seu governo no capitulo feito a 30 de Agosto de 1760, no qual foi canonicamente
eleito o primeiro Guardiao deste novo Hospicio e se lhe deu o titulo de
Convento com obrigação de regular, como nas mais da Provincia (...) Foi
novamente eleito em primeiro Guardiao deste novo Convento (...) Irmao Frei
Inacio de Santo Antonio (...) E tanto que tomou posse nesta Casa deste novo cargo,
que foi pela especial devoção que tinha ao glorioso Sao Jose na Dominga 2.a de
Outubro, dia em que reza a Igreja do seu Patrocinio, cuidou logo em fechar a
clausura exterior para evitar na arca devassidões, e invasões de gados, e
seculares, enquanto se dispunham as coisas para clausular o interior, e para
aquele fim fez os muros da cerca da parte do norte, e quinta da Pigarra ate a
fonte, tendo aqueles quatro palmos de grosso, e em partes mais de doze de alto
e de comprido setenta e duas bracas e um quarteirao (...) coloca colocando
sobre o cunhal do novo muro da parte da Galiza, uma cruz de pedra de 6 palmos
de alto e a benzeu. (...) continuou o seu zelo em socalcar grande parte do
pomar e pondo nos socalcos escadas para suave descensu dos religiosos,
copando-o de ruas e plantando nelas novo bacelo das melhores castas para a seu tempo
se tecerem latas, mandando enxertar as fruteiras que havia e acrescentando o
pomar. Para este efeito sachou um grande pedaco de mata que assombrava o
pequeno pomar que tinha plantado o Irmao Regente Frei Manuel de Sao Francisco
de que acima faz mencao, e lho acrescentou com muitas novas arvores, das
melhores frutas, e belos enxertos que de fora vieram, e todos os religiosos por
fora pediram, pelo grande gosto que do acrescimo do pomar tiveram, e no
canteiro por cima se principiou com laranjeiras e limoeiros, que se puseram um
ordinario pomar de espinho, que se vai com diligencia continuando. Coparam-se as
ruas da mata de castanheiros postos ao cordel e em toda ela muitos carvalhos se
plantaram ocupando com este inumeravel zelo todo o Inverno, chegou finalmente o
Marco do seguinte ano de 1761 e nele se concluiu o madeiramento, cambotaria da
Igreja e seu faiscado, e ripado e toda a carpintaria do coro, com tal diligência
que a 9 de Abril deram principio as obras de colher e rebocadores.
Continuando
os rebocadores com diligencia a sua empreitada em toda a Igreja a 4 de Julho do
mesmo ano a tinham telhado, estucado, rebocado e caiado toda e neste mesmo dia
que caiu em sabado, a Mae de Deus dedicado, se fechou a porta da nova Igreja e
a Portaria (...)
No
primeiro de Agosto, que tambem caiu no sabado, a nossa Patroa dedicado, primeiro
dia do singular jubileu da Porciuncula, apareceram os tres altares da nova
Igreja concluidos de urnas, banquetas e os seus Santos nestes colocados Nos
colaterais: da parte do Evangelho fica a Senhora das Dores, que e o do
Sacrario; na parte da Epistola, o glorioso Santo Antonio e se lhe pôs de novo o
seu resplandor de prata e tambem ao seu Menino, feitos a moderna e este se fez
privilegiado com deputacao do Ordinario segundo o Breve do Senhor Papa Benedito
14 (...)
No
Altar da Capela do Cruzeiro se colocaram o Menino Deus no ternissimo Misterio
do Nascimento de uma parte a Madre de Deus, e da outra o gloriosos Sao Jose,
ambos de roca e de estatura proporcionados e se vestiram custosamente de tudo o
necessario (...) e se puseram as cimalhas de talha a moderna, no cimo das
frestas da capela mor, e da mesma lisa se fez o pulpito, e se solhou todo o
Arco Cruzeiro ate a grade; e para esta se assentar se fez um degrau de
esquadria; e por baixo outro no olivel do pavimento da Igreja para os caixilhos
das sepulturas (...)
(continua)
Extraído de:
- FIGUEIREDO, Ana Paula Valente (2008) - Os Conventos franciscanos na real província da Conceição - análise histórica, tipológica, artística e iconográfica. Tese de Doutoramento em Arte, Património e Restauro, FLUL, Lisboa.
Sem comentários:
Enviar um comentário