segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Manoel José Rodrigues da Costa, presbítero de Melgaço no Brasil



Manoel da Costa foi um dos primeiros oficiais da Igreja Presbiteriana do Brasil. Nasceu no dia 21 de junho de 1846 em Beleco de Passos, Melgaço (província do Minho), em Portugal, a pequena distância da fronteira espanhola. Em novembro de 1859, aos treze anos, deixou a pátria, aportando no Brasil em janeiro de 1860. Dirigiu-se para Caldas, Minas Gerais, ali chegando no dia 7 de abril. Quatro anos depois, em março de 1864, foi residir em São Gonçalo do Sapucaí, onde se casou em 22 de abril de 1865 com Florisbela de Azevedo Costa (ele com 19 anos e ela com 13). Em 1866, mudou-se para Águas Virtuosas (Lambari), onde no ano seguinte nasceu o primogênito Guilherme.

Em 1870, mudou-se para a Serra de Santos, como empregado da São Paulo Railway. Converteu-se em 1874, através da leitura da Bíblia, sendo recebido por profissão de fé e batismo no dia 6 de dezembro daquele ano pelo Rev. George W. Chamberlain, na Igreja Presbiteriana de São Paulo. Florisbela foi recebida em 7 de março de 1875, em companhia do futuro Rev. Eduardo Carlos Pereira. No dia 21, batizaram os filhos Guilherme, Elisa e Alberto. Manoel deixou o emprego na estrada de ferro por causa do trabalho no domingo e tornou-se comerciante. Teve um armazém na rua Santa Efigênia, transferindo-o em 1879 para a rua dos Andradas.

Foi eleito diácono da Igreja de São Paulo em março de 1876, e presbítero em 3 de outubro de 1880, sendo ordenado no dia 9 de janeiro de 1881. Tornou-se assim o segundo presbítero dessa igreja histórica, organizada em 1865. O primeiro havia sido o inglês William Dreaton Pitt, ordenado em 22 de dezembro de 1867, que ingressou no ministério em 1869 e faleceu no ano seguinte. Foi somente a partir de Manoel da Costa que a Igreja de São Paulo teve com regularidade o ofício de presbítero.

Foi um presbítero exemplar, secretário do conselho por muitos anos e tesoureiro da igreja. Representou a sua igreja na organização do Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil, em 1888, e em muitas reuniões de concílios. Fez parte da primeira comissão permanente do Plano de Missões Nacionais (1888) e foi o seu segundo tesoureiro (1890-1899), em substituição ao Rev. Antônio B. Trajano. Também atuou como tesoureiro do Seminário Presbiteriano. Foi um dos membros fundadores do Presbitério de São Paulo, criado pelo Sínodo e instalado no dia 14 de setembro de 1888, sendo o único presbítero ao lado dos Revs. George Chamberlain, Donald McLaren, George Landes, Emanuel Vanorden, Modesto Carvalhosa, Eduardo Carlos Pereira, João Ribeiro de Carvalho Braga e Manoel Antônio de Menezes. Foi ainda um dos principais fundadores do Hospital Samaritano (1892), atuando nos trabalhos de organização, construção, administração e sustento dessa entidade.

Manso e humilde, mas firme em suas convicções, era combativo nos concílios e na imprensa presbiteriana. No Sínodo de 1900, manifestou o seu dissentimento contra o critério geográfico adotado para a delimitação dos Presbitérios de São Paulo e Oeste de São Paulo. Duas igrejas da capital ficaram no primeiro presbitério e a outra no segundo. Manoel da Costa assim se expressou: “O abaixo assinado respeitosamente dissente da decisão do Sínodo, dividindo a cidade de S. Paulo, ficando assim a pertencer a dois Presbitérios, o que julga contrário ao espírito do Evangelho”. Essa divisão resultou das controvérsias da época, centralizadas em torno do Rev. Eduardo Carlos Pereira, pastor da Igreja de São Paulo. No culto de ação de graças pela vida do Rev. George Chamberlain, realizado no Mackenzie em 23 de agosto de 1902, Manoel da Costa falou em nome da Igreja de São Paulo.

No Sínodo de 1903, em que se dividiu o presbiterianismo brasileiro, Manoel pronunciou-se contra a maçonaria, mas também se opôs à divisão da igreja. Propôs o seguinte substitutivo a uma proposta do Rev. Álvaro Reis: “Que o Sínodo declarasse a incompatibilidade [entre a fé evangélica e a maçonaria], que recomendasse aos crentes que se não filiassem à instituição, e que fossem tolerados os crentes maçons até que Deus os esclarecesse”. Votou com a maioria, com restrições, fundamentando o seu voto que ficou nas atas do Sínodo: “O abaixo-assinado, votando sim no último parecer da comissão de papéis e consultas, não concorda, entretanto, com os seus considerandos por entender que a maçonaria é incompatível com o Evangelho”.

Apesar de não concordar com a divisão da denominação, continuou a freqüentar por algum tempo a Igreja de São Paulo, agora filiada ao movimento independente. Em 1886 havia voltado pela primeira vez a Portugal, onde procurou propagar o evangelho. Residiu por quatro meses em Melgaço, sua terra natal, e pregou várias vezes em Caminha. Fez nova visita à pátria em 1892-1893. Pouco depois do cisma presbiteriano, foi pela terceira e última vez ao seu país de origem. Voltando ao Brasil, residiu em Juiz de Fora de 1905 a 1915, mudando-se no ano seguinte para Mogi das Cruzes. Dona Florisbela faleceu aos 69 anos em 2 de janeiro de 1922.

Manoel da Costa destacou-se como um crente e presbítero piedoso, pontual e zeloso.

O respeito pelo Dia do Senhor foi uma das características da sua vida. Outro destaque foi a sua liberalidade. Por volta de 1882 fez o voto de dar ao Senhor todos os seus dízimos. Prometeu também a Deus que, se chegasse a possuir 50 contos de réis, o excedente seria aplicado para fins evangelísticos e beneficentes. Disse e fez. Ofertou em sua vida 106 mil réis (dízimos mais o excedente dos seus bens). Era o “dizimista n° 5” em sua igreja. Acima de tudo, foi um homem de oração. Alguém disse: “Quando a igreja mais precisa de oração, os primeiros joelhos que se dobram são os de Manoel da Costa; quando mais precisa de dinheiro, a primeira bolsa que se abre é a sua”. No interesse da causa de Cristo, participou de reuniões de outras denominações (metodista, batista, cristã evangélica, etc.).

Foi também um grande evangelista. Quando mais moço, dirigiu cultos de propaganda nos bairros. Foi professor da classe de adultos da sua igreja por muitos anos e dirigiu uma classe bíblica na Associação Cristã de Moços. Durante algum tempo manteve uma escola dominical em sua casa, aos domingos à tarde, na rua dos Andradas. Escreveu e publicou 18 folhetos, distribuindo-os amplamente. São eles: “Primeiro passo para a salvação”, “Uma conversa”, “Salvação de graça”, “Salva-te sem demora”, “Uma carta aos pretos libertos”, “Aos empregados no comércio e aos artistas”, “Amor e simpatia de Jesus para com os pecadores”, “A grande naturalização e a grande salvação”, “Extrato do folheto Trabalho e Economia”, “Jesus Cristo é o nosso maior amigo”, “O domingo não é nosso”, “O dízimo não é nosso”, “A oração do justo”, “Uma despedida ao povo”, “O plano de Deus para a nossa salvação”, “A cura do corpo e a cura da alma”, “Aviso aos espíritas sinceros”. O primeiro foi traduzido para o italiano (“Primo passo verso la salvazione”) e distribuído largamente entre os imigrantes em São Paulo.

Em 1921, adotou para uso diário a oração do salmista: “Faze-me conhecer, Senhor, o meu fim e o número dos meus dias qual é, para que eu saiba o que resta” (Salmo 39.4, Versão Figueiredo). Em 21 de junho de 1922, ao completar 76 anos, estando presente o filho Alberto, ajoelharam-se e agradeceram a Deus por ter-lhe concedido mais um ano de vida, com saúde e na sua graça. Usaram esta expressão: “Não peço que me prolongues a vida, mas somente os dias que forem para tua glória”. No dia 14 de julho, Deus respondeu à oração que vinha fazendo desde 1921, dando-lhe a entender que ainda teria três anos de vida. Mais tarde, concluiu que Deus lhe daria outros três anos (até 13 ou 14 de julho de 1928). Por fim, acreditou ter recebido nova prorrogação de um ano, o que se confirmou com diferença de um dia.

No dia 6 de julho de 1929, seu filho Alberto e o presbítero Luiz Del Nero foram a Mogi das Cruzes e o levaram para a casa de Alberto em São Paulo. O ancião contraiu pneumonia. No dia 11, já enfraquecido, levantou-se para que tirassem o seu retrato. Faleceu no dia 15 de julho, às 8:44 da manhã. O sepultamento ocorreu no dia seguinte. Na residência oficiaram os Revs. Otoniel Mota e Bento Ferraz; no Cemitério do Redentor, Otoniel Mota e Salomão Ferraz.

O casal Costa teve 19 filhos, quase todos falecidos na infância ou no início da idade adulta. Um deles, Guilherme da Costa, foi consagrado pastor metodista (faleceu no Rio de Janeiro em setembro de 1904, numa epidemia de varíola); Elisa foi casada com José Rodrigues da Costa, de Itapira; Ermelinda casou-se com o Rev. Simão Salem. Seu filho Alberto J. R. da Costa, que foi diácono e presbítero da Igreja de São Paulo, escreveu um opúsculo intitulado A Vida de Meu Pai. O Rev. Bento Ferraz também o homenageou com o escrito Manoel José Rodrigues da Costa – In Memoriam. O Rev. Eduardo Carlos Pereira dedicou-lhe um estudo em folheto, “A fidelidade de Deus ou trabalho e economia”, no qual exaltou o seu caráter.

Extraído de:
http://www.mackenzie.br/10195

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