Igreja
do mosteiro com o mesmo nome, classificada como Monumento Nacional desde 1913,
como em muitos outros casos as brumas do tempo escondem o seu nascimento. A
ausência de dados faz com que se aplique um modelo explicativo para as suas
raízes: em finais do séc. IX terá sido fundado um eremitério ou um cenóbio de
tradição visigótica de S. Frutuoso e com ligações a Dume, sendo que o primeiro
documento conhecido data de 1154, havendo um outro de 1157 onde se menciona a
regra de S. Bento. A primeira referência explícita a Cister consta de um
documento de 1194 onde consta a filiação de Fiães em Tarouca.
É
ainda no séc. XII que se constitui o seu património através de doações,
legados, compras e escambos onde sobressai em 1157 a constituição do Couto por
meio da doação de Afonso Pais (embora falte um documento que confirme as
isenções) e o apoio de Afonso Henriques que lhe outorga em 1177 o que possui de
bens em reguengos de Melgaço ao termo de Chaviães e de Cátaro ao Rio Minho,
erguendo os monges uma granja em terras de Orada e aí erigindo uma capela
considerada uma das jóias do românico português. Sancho I revoga a doação da
herdade da Senhora de Orada em benefício dos povoadores de Melgaço mas compensa
o mosteiro com terras na freguesia de Messegães (Monção).
A
crise económica, social e também espiritual do séc. XIV com o seu rol de
guerras , fome e doenças afectará também os mosteiros influindo na crise de
vocações, desorganização e perda de rendimentos. Ainda assim, após as guerras
fernandinas e a conquista de Melgaço por João I (tendo D. Filipa ficado
instalada no mosteiro enquanto decorriam as movimentações militares), em 1392
aquele ainda lhes concederá o “dízimo do pescado miúdo no rio Minho do termo de
Melgaço contra Galiza com excepção das lampreias, sáveis e eiróses”.
O
grande flagelo será, no entanto, a substituição do abade vitalício e eleito na
comunidade pelos abades comendatários, absentistas que não conhecem os monges,
não estavam a par das regras e usos, não mantinham a disciplina e não faziam
cumprir devidamente o ofício divino, promovendo o relaxamento dos costumes. A
eles só interessa os rendimentos do mosteiro, bens e rendas eram dissipados e
consumidos, as casas não tinham monges suficientes nem eram providas do
sustento necessário para as manter, é natural o desleixo na manutenção e
conservação dos edifícios. A casa real protege Alcobaça, mas o resto será
dissipado.
Em
1532, fruto da intervenção de D. João III, é nomeado comendatário D. João de
Cós, antigo prior de Alcobaça, homem enérgico e que vai residir para Fiães na
tentativa de recuperar património fundiário, reorganizar a comunidade e
realizar obras urgentes.
Quando
o Abade de Claraval chega a Fiães em Janeiro de 1533, verifica com agrado as
obras de restauro começadas por D. João de Cós, nos tectos na sala capitular,
na igreja do claustro e nos aposentos do Abade; tudo o resto eram grandiosas
ruínas e uma pobreza gritante quanto aos paramentos e alfaias litúrgicas, meia
dúzia de manuscritos, alguns muito belos mas antigos e obsoletos face ao avanço
da imprensa e apenas o abade, quatro religiosos e 2 conversos. Condições de
vida que, no entanto, não diferem substancialmente das da população em geral.
A
degradação moral, sinais dos tempos de mudança e de reinvenção da
espiritualidade no ocidente; a falta de piedade e o relaxamento dos costumes
constituem uma nota pouco edificante em muitos conventos. Em Fiães, o caso da
filha do anterior comendatário que na granja de Orada exercia a prostituição
conjuntamente com 2 outras jovens, motivou a intervenção enérgica do visitador
junto do Juiz de Melgaço, conseguindo expulsar as mulheres que exerciam a
prostituição, inclusivamente, na abadia.
Em
1567, com a reforma da Igreja Católica, efectuada pelo Concílio de Trento acaba
a sangria. Alcobaça fica como responsável pela Ordem em Portugal, institui-se a
figura do Abade trienal e passa a ser exercida uma vigilância a cargo dos
capítulos gerais de Alcobaça. Aos poucos foi recuperada a vivência monástica e
abre-se uma época de reconstrução e recuperação dos edifícios de que Fiães
acabará por beneficiar.
O
Marquês de Pombal, na sua política de criação de um Estado centralizado, actua
no sentido de submeter a Igreja à autoridade civil; é no âmbito desta
problemática que entra o combate aos cistercienses; nomeia um geral da Ordem
influenciável e que rodeia de homens da sua inteira confiança os quais promovem
a reforma dos estudos monásticos e as pastorais de 1774 que, preparando os
monges para futuras extinções possibilita o afastamento dos abades trienais com
a desculpa de purificação do ambiente. Assim são extintos Mocambo, Tarouca,
Lafões, Seiça, Maceira-Dão e Fiães entre outros, anexando as rendas a outras
entidades: as de Fiães foram entregues ao Colégio da Conceição em Coimbra.
Esta
primeira extinção foi fatal para muitos mosteiros entre os quais se encontrava
Fiães. Apesar da restauração de 1777 levada acabo por Maria I, a qual corrige a
acção contra Alcobaça, a época já não era propícia à recuperação das
instituições monásticas: cerceamento à liberdade de ingresso nas ordens
religiosas e tomadas de ordens, efeitos da revolução francesa, da expansão do
liberalismo e hostilidades durante a revolução liberal causadas pela posição
miguelista que foi adoptada pelas instituições religiosas abrem campo ao
decreto de extinção das ordens religiosas em 1834, inventariando-se os bens das
ordens e integrando-os na Fazenda Real.
Embora
reduzido a 2 monges, o seu património, apesar de todas as vicissitudes, parece
não ter sido posto em causa: o couto, que coincide com a área da actual
freguesia, e todo o seu património fundiário é desarticulado e integrado no
novo esquema social e administrativo implantado no país pelo liberalismo, no
caso particular, integrado no concelho de Melgaço.
Em
termos organizativos, embora não haja muita documentação, na sua época áurea
por certo não deferiria muito dos seus congéneres: um abade, monges, de origem
nobre, alguns letrados e sacerdotes, outros não, de túnica branca e escapulário
negro com capuz, ditos monges do coro e que vivem em clausura.
Conversos,
irmãos leigos ou laicos, de origem campesina ou burguesa, iletrados na
esmagadora maioria e que se dedicavam às tarefas económicas dentro e fora do
mosteiro, nas granjas; eram a mão de obra, que vestia um hábito um pouco mais
escuro e que vivia dentro do, mosteiro mas afastados dos monges.
Nas
imediações da Abadia residia a Família: homens e mulheres que se encomendavam
ao mosteiro por razões piedosas ou económicas e que em troca da alimentação,
roupa e dormida renunciavam ao direito de propriedade, juravam obediência
absoluta ao abade e trabalhavam para o mosteiro. O mosteiro também cuidava dos
doentes e dos pobres que a ele se dirigiam em aflição e recebia visitantes em
instalações próprias.
O
abade era o administrador da comunidade cuidando dos bens, controlando as
granjas, velando pela conservação dos edifícios e, dentro do couto, era também
a fonte donde emanava o poder terreno.
No
âmbito do mosteiro era ajudado pelos monges aos quais estavam atribuídos cargos
como os de prior, sacristão, tesoureiro, mestres de noviços e de conversos,
enfermeiro, escriba, cantor ou porteiro. Eram encarregados de tarefas tão
diversas como as do ensino, ofícios litúrgicos, música, manutenção das alfaias
litúrgicas, obras, escrita, contabilidade, cuidados médicos, alimentação, da
qual estava excluída a carne, acolhimento a viajantes e das relações da
clausura com o exterior, etc. .
A
granja cisterciense era o centro de exploração económica do domínio monástico.
Ali trabalhavam e viviam conversos dirigidos pelo mestre da granja e
supervisionados semanalmente pelo monge a que era atribuída essa
responsabilidade. As granjas eram constituídas por um conjunto de edifícios
económicos, caso de celeiros, estábulos, teares, fornos, moinhos etc., conforme
o tipo de exploração e outros domésticos como sejam cozinhas, refeitórios,
dormitórios e capela tudo disposto à volta de um pátio.
A
vida diária dos monges alternava entre a oração (opus Dei) no coro, quatro
horas diárias mais as missas, com leituras espirituais nos claustros (Lectio
Divina) e o trabalho manual (Opus manuum) nas hortas, no scriptorium ou outras
dependências do mosteiro, no conjunto, cerca de seis horas no Verão mais o
tempo destinado ao descanso.
O
silêncio a que eram obrigados só era interrompido pelo canto no coro, na sala
capitular, onde se liam as regras, se tomavam as decisões importantes e se
fazia a confissão púbica de culpa, e quando o prior distribuía as tarefas
diárias no locutório, tarefas e urgências eram resolvidas através de uma
sinaléctica própria.
Dentro
do couto, terra imune por excelência em que o rei abdicava das suas
prerrogativas jurisdicionais e dos direitos materiais a favor do donatário, as
suas responsabilidades iam no sentido de organizar o sistema de relações com os
seus súbditos e dependentes e articulá-lo com
o poder real e as instituições circundantes..
O
abade designava os magistrados existentes na Casa da Audiência do mosteiro,
como o Juiz, procurador, meirinho e porteiro. Os 12 homens-bons que compunham a
assembleia deliberativa do couto eram nomeados pelo juiz, pelo procurador e
pelo Abade, sendo que após as reformas, no séc. XVII, passou a haver
representantes de Alcobaça nessa assembleia; em 1671 havia uma coima de 500réis
por cada falta às reuniões. Magistrados e vereadores, encarregues da
administração do couto eram também designados. Entre outras funções contam-se a
milícia, aferidores, recebedores e vendedores. Portanto, uma estrutura similar
aos concelhos, cuja diferença reside na origem do poder que, nos concelhos, é
de cariz popular e no couto é delegado, neste caso pelo Abade.
De
salientar que o corpo actual da Igreja data da fase de restauro já no séc.
XVII, tal como a fonte da Madalena e a alameda. A Igreja manteve a cabeceira, o
portal e as paredes das naves. Elevadas as naves, ganhou em grandiosidade e
luz, com uma janela na fachada e no alçado norte contrastando com as frestas a
sul mas perdeu a proporcionalidade e a elegância austera anteriores, ainda hoje
documentada pela cabeceira, alguns capitéis avulsos e pela pureza do pórtico.
Os edifícios da clausura, ainda em ruínas há cerca de 50 anos, já não existem
hoje. Algumas casas em redor foram construídas sobre muros e arcos do antigo
claustro e materiais foram usados para construção.
O
espírito da ordem é visível na austeridade da sua arquitectura na figuração
quase inexistente, na ausência de decoração do pórtico (as estátuas da fachada
são do séc. XVII). O espaço interno e as arcadas, de planimetria seiscentista
alteraram a luminosidade e o ambiente próprios do espaço cisterciense. Os
carvalhos, que se erguem no terreiro, foram mandados plantar pelo abade Frei
Félix de Cerveira em 1737.
Informações recolhidas em:
- http://rotascister.home.sapo.pt/P7.html
S. Bento mos proteja a todos.
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