Um pouco de História...
Chaviães é uma freguesia muito antiga com existência comprovada nos princípios da nacionalidade. Segundo Bernardo Pintor, a mais antiga referência à Igreja de Chaviães e à sua padroeira primitiva - Santa Seguinha – consta de um documento datado de 1177 e pelo qual “Pedro Pires testou ao Mosteiro de Fiães (Melgaço) o seu corpo e metade de um casal em Chaviães, sob a igreja de Santa Seguinha” (Pintor, 2005). Pierre David filia a invocação de Santa Seguinha no culto a Santa Ségolène, originário da região d’Albi, em França e que ‘se teria difundido por estas paragens por efeito dos peregrinos que se dirigiam a Compostela’(David, cit. Pintor, 1975-reed 2005).
Em 1258-1259 foi citada num documento que serviu de ‘lembrança das Inquirições’ como pertencendo ao bispado de Tui (Costa, 1981: 158) e no arrolamento mandado fazer por D. Dinis em 1320 a Igreja de Santa Segoinha de Chaviães estava adstrita a Valadares e foi taxada em 160 libras , a mais alta do concelho de Melgaço.
Por bula do Papa Eugénio IV, de 14-VII-1444, e a pedido do regente D. Pedro, a comarca eclesiástica de Valença foi separada do cabido de Tui (na altura adepta do papa de Avinhão) e anexada à diocese de Ceuta.
Em 20-IX-1512, por um contrato celebrado entre o D. Diogo de Sousa, arcebispo de Braga, e D. Frei Henrique, bispo de Ceuta, a administração eclesiástica de Valença passou a pertencer à diocese de Braga, enquanto que a administração de Olivença ficou na posse da diocese de Ceuta.
Santa Seguinha de Chaviães passou, então, a ser administrada pelo Arcebispado bracarense. Pelo ‘Censual’ de D. Diogo de Sousa (1514-1532), a igreja de Chaviães tinha um rendimento de 114 réis e 4 pretos Costa, 1981: 189). No “memorial feito em tempo de Dom Manuel de Sousa (1545-1549) está referida como pertencente à ‘Terra da villa de Melgaço’ e foi avaliada em 40.000 reis.
Em 26 de Abril de 1758, o abade António José de Sousa e Gama, respondendo ao ‘Inquérito’pombalino, afirmava que a igreja tinha de renda 400$000 réis da qual uma terça parte pertencia ao ‘excellentíssimo Collegio da Patriarcal de Lixboa’. O pároco era da apresentação da ‘Sereníssima Caza de Bragança’ (IANTT, 1758-Capela,2005).
A Igreja Paroquial
Templo inserido em meio rural, construído em cantaria autoportante de granito, com estrutura original românica, composta de uma nave rectangular à qual se acrescentou posteriormente a capela-mor, a sacristia, a casa das confrarias e a torre.
Da primitiva construção resta o portal axial com as suas duas arquivoltas reentrantes arrancando de impostas assentes sobre dois pares de colunas coroadas de capitéis. A decoração é muito variada e assemelha-se à da Igreja de N.ª S.ª da Orada: nas impostas predominam as esferas, os enxadrezados, folheados, etc.; caneluras na arquivolta inferior e rosetas e esferas na arquivolta do meio; tímpano com uma cruz grega quadrifoliada e toda a cercadura que envolve as arquivoltas encontra-se ornamentada com palmetas, rosetas, flor-de-lis, e cartelas.
Nas cornijas uma fiada de cachorros com temática simbólica (Alves, 1987). Relógio de sol meridional de dois quadrantes, na torre.
No interior são evidentes as alterações levadas a efeito no séc. XVIII principalmente na cabeceira do templo. A primitiva capela-mor românica foi reformulada para alojar um retábulo de talha subdividido em nichos delimitados por colunas pseudo-salomónicas estando o central ocupado por um pequeno trono.
No interior são evidentes as alterações levadas a efeito no séc. XVIII principalmente na cabeceira do templo. A primitiva capela-mor românica foi reformulada para alojar um retábulo de talha subdividido em nichos delimitados por colunas pseudo-salomónicas estando o central ocupado por um pequeno trono.
Segundo estudo de Paula Bessa, ‘são visíveis pinturas murais nas paredes da capela-mor por trás do retábulo-mor’ (Bessa, 2003: 12). A mesma investigadora, em tese de doutoramento, refere-se a outras pinturas murais existentes nas paredes da nave adjacentes à parede do arco triunfal executadas a ‘fresco com acabamentos a seco’(Bessa, 2007: 113). Data-as do ‘primeiro quartel de séc, XVI, embora não repugne pensar que possam ser um pouco anteriores’ (Bessa, 2003: 21). Como temas identificou os seguintes:
‘Na Parede lateral da nave do lado do Evangelho, e de oeste para nascente, está representado um santo franciscano, talvez Santo António, sobre peanha fingida, descalço e com livro sobre o braço esquerdo, dobrado(e com o Menino Jesus sentado?) e crucifixo (?) na mão direita, seguido de dois registos figurando em cima, uma cena da vida de S. Roque (S. Roque no bosque) e em baixo, os reis magos Melchior e Gaspar.Esta representação da Epifania prolonga-se pela parede do arco triunfal (registo baixo) aí se representando o terceiro mago, Baltasar, não tendo, no entanto, sobrevivido o resto da cena que incluiria Nossa Senhora com o Menino, embora subsista a parte lateral do trono de Santa Maria, assim como fragmentos do seu manto. Sobre Baltasar, no registo alto, subsiste a parte inferior da representação de um Santo que, por desaparecimento da pintura e consequente falta de atributos não podemos identificar. Parece, no entanto usar vestes de diácono embora apareça de pés descalços’ (Idem).
‘No arco triunfal, agora do lado da Epístola, está representado, no registo alto o tema do Homem Silvestre e, em baixo, subsiste um fragmento do Martírio de S. Sebastião(contorno do lado esquerdo do corpo do santo, crivado de flechas , e dois archeiros)’.
‘No arco triunfal, agora do lado da Epístola, está representado, no registo alto o tema do Homem Silvestre e, em baixo, subsiste um fragmento do Martírio de S. Sebastião(contorno do lado esquerdo do corpo do santo, crivado de flechas , e dois archeiros)’.
‘Na parede da nave adjacente à do arco triunfal, do lado da Epístola, encontramos a representação de Santo Antãoe de S. Bartolomeu’.
O estado de conservação destas pinturas murais era 'razoável, embora haja lacunas e grande quantidade de deposição de sais' (Bessa, 2007).
ALVES, Lourenço - Arquitectura Religiosa do Alto Minho. I - Igrejas e Capelas do Alto Minho do Séc. XII ao Séc. XVII, Viana do Castelo, 1987.
BESSA, Paula –Pintura mural na Igreja de Santa Maria Madalena de Chaviães, in ‘Boletim Cultural de Melgaço’, n.º 2, 2003, pp. 9-30.
BESSA, Paula –Pintura mural do fim da Idade Média e do Início da Idade Moderna no Norte de Portugal (Tese de Mestrado), Universidade do Minho, Setembro 2007.
(Antecedentes da Diocese de Viana do Castelo). Comunicação apresentada ao I Colóquio Galaico-Minhoto, Ponte de Lima, 1981
PINTOR, P.e M. A. Bernardo – Melgaço Medieval. Obra histórica, reed. Rotary Clube de Monção,Monção, 2005, Vol. 1.
http://acer-pt.org/
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