A igreja paroquial é de um antigo mosteiro de
templários da Idade Média, com vestígios românicos que tinha por função ser o
baptistério das aldeias circundantes. Os detalhes do românico encontram-se tanto
nas portas, especialmente a lateral de norte, como nas próprias paredes, cujas
pedras estão pejadas de siglas.
A igreja de Lamas de Mouro não aparece referida no documento existente na Torre do Tombo e que, segundo José Anastácio de Figueiredo, teria servido de ‘lembrança’ para a elaboração das ‘Inquirições’ de 1258 (Costa, 1981: 158). Assim, não consta deste levantamento mandado efectuar por D. Afonso III para determinar a situação da propriedade régia e os dos outros senhores. Continua a ser omitida na relação de 1320 fixando a taxa a pagar pelas igrejas a D. Dinis, pelos benefícios eclesiásticos até então recebidos pelo Cabido de Tui (Idem, ibidem: 163) e que, após a cisão da Igreja, foram concedidos pelo Papa de Avinhão ao nosso rei ‘por tempo de três annos para subsídio da guerra contra os mouros’(Domingues cit. Fortunato de Almeida, 1999: 15).
Segundo uma confirmação de 21 de Abril de 1355 feita pelo pároco ao bispo João de Tui, a igreja de Lamas de Mouro tinha como padroeiros os cavaleiros de S. João do Hospital (Domingues, 1999: 15).
Pelo Censual de Dom Manuel de Sousa (1545-1549), a Igreja de S. João foi avaliada em 10.000 reis (Costa, 1981: 202). No Censual de D. Frei Baltazar Limpo (1551-1581) aparece como pertencendo à ‘Terra de Melgaço’ sendo da colação do Arcebispo. A comarca de Valença obtinha dela um benefício de 3.000 reis (idem, ibidem: 207).
Em 22 de Maio de 1758, o abade Constantino Dias respondeu ao Inquérito afirmando que na freguesia viviam “dezoito vizinhos, carenta e cinco pessoas de sacramento, menores cinco, tem mais treze de sacramento… Os frutos da terra hé centeio, não se recolhe outro fruto senão linho… As terras são poboadas de hurzes, carrameijas, carqueijas, tojo e penhascos, em algumas partes da serra se semea nellas chamados labores, não dá senão (centeio) … Cream-se nesta terra gados grandes, cabras e obelhas, lobos, jabalizes, veados, coelhos, perdizes, codornizes e rollas” (IANTT, 1758: 193-196).
Lamas de Mouro seria, assim, uma comunidade pequena vivendo da agro-pastorícia e alguma caça. Os seus rendimentos eram parcos e deles tinham de retirar 35.000 réis de foro que pagavam aos religiosos de Malta (idem, ibidem). O pároco, era“abbade aprezentado por Bullas Apostólicas de Roma. Tem de renda setenta mil réis” (idem, ibidem).
Com adro e espaço envolvente murado e ajardinado, a igreja insere-se no centro de um conjunto urbanizado rodeado de espaço agrário de montanha.
Igreja derivada de um primitivo templo medieval posteriormente remodelado e reconstruído.
Desenvolve-se longitudinalmente em nave única e cabeceira rectangular tendo adossado, do lado sul, um corpo arquitectónico servindo de sacristia. Coberturas diferenciadas a uma e duas águas.
Paramentos em cantaria autoportante de granito aparente, de aparelho regular e juntas argamassadas.
Na fachada principal, voltada a poente, a porta axial, em arco de volta perfeita, é precedida de dois degraus. Junto ao arranque esquerdo do arco existe um conjunto escultórico constituído por “duas figurinhas atarracadas - uma masculina e outra feminina - que dizem os naturais serem Adão e Eva, mas que a nós pareceram ser restos de modilhões da primitiva igreja. Um pouco acima, há uma ave sob duas volutas jónicas, talvez restos de um capitel” (Alves, 1987: 45). O coroamento da fachada é rematado por cimalha angular com cruz latina no vértice, planificada no encontro com o cunhal coroado por pináculo. Todavia, até 1668, terão existido cápeas sobre o remate angular da frontaria e da cabeceira que serviriam para suster o travejamento do colmaço de revestimento da cobertura, conforme refere um capítulo de visitação de 18 de Agosto daquele ano (Domingues, 1999: 66).
A torre, em dois registos separados por cornija, insere-se à esquerda da frontaria possuindo uma sineira dupla, pois a inferior serve de base a uma outra alojada no bloco granítico de remate da primeira, com acesso por escadaria adossada à parede do lado norte.
Do Românico do exterior da primitiva construção resta a entrada lateral norte, com vão muito estreito em arco quebrado pouco pronunciado, coroado por três arquivoltas ornamentadas e tímpano liso sobre impostas. Na decoração esculpida empregaram-se encordoados, quadrifólios e motivos lanceolados.
Uma outra reminiscência do templo medieval encontra-se nas siglas inscritas em alguns silhares do interior.
Informações recolhidas em:
ALVES, Lourenço - Arquitectura Religiosa do Alto Minho. I - Igrejas e Capelas do séc. XII ao séc. XVII, Viana do Castelo, 1987.
Informações recolhidas em:
ALVES, Lourenço - Arquitectura Religiosa do Alto Minho. I - Igrejas e Capelas do séc. XII ao séc. XVII, Viana do Castelo, 1987.
CAPELA, J. Viriato (Coord.) - As Freguesias do Concelho de Melgaço nas «Memórias Paroquiais» de 1758. Alto Minho: Memória, História e Património, Ed. C. M. de Melgaço, Melgaço, 2005 (IANTT - Memórias Paroquiais, mem. 38, vol. 19, p. 193-196).
COSTA, Avelino de Jesus da - A Comarca Eclesiástica de Valença do Minho (Antecedente da Diocese de Viana), in Separata do 1º Colóquio Galaico Minhoto, Associação Cultural Galaico-Minhota, Ponte de Lima, 1981, Vol. 1, p. 69-235.
DOMINGUES, José – O Couto de S. João de Lamas de Mouro: Suplemento Histórico, Ed. C. M. de Melgaço, Melgaço, 1999.
Parabéns pelo excelente trabalho de divulgação das belezas do nosso país.
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