sexta-feira, 20 de julho de 2012

Evolução da arquitectura da igreja do Convento de Paderne ao longo da História


Existem várias interpretações para explicar a existência das duas fachadas da Igreja do Convento de Paderne. Reinaldo dos Santos admite a hipótese de pertencerem a duas igrejas construídas em diferentes datas. A mais antiga seria a que tem o corpo mais recuado fundamentando a sua convicção pela análise formal dos dois pórticos. Para Carlos A. Ferreira de Almeida tratar-se-ia de uma capela ocupando o lado esquerdo do transepto e que “servia um público que teria lugar reservado nessa parte do transepto, deixando a nave para outros” (Almeida, 2001: 89). Segundo este historiador de Arte os dois portais serão sensivelmente da mesma época, como já se referiu, e a construção da igreja dataria de meados do séc. XIII. O arq. Luís M. Fernandes Pinto, em recente estudo, sustenta a tese de que o edifício da igreja resultou de quatro campanhas de obras, conforme o mesmo designa e descreve (Pinto, 2000: 11):
- 1.ª campanha: Fase de fundação do mosteiro, certamente anterior a 1141 (16 de Abril, carta do couto). Ter-se-á estabelecido como um templo de reduzidas dimensões, correspondendo aproximadamente à actual Capela do Espírito Santo, integrada no transepto, a Noroeste.
- 2.ª campanha: Ter-se-á tratado de trabalhos parcelares ocorridos entre 1141 e 1248 (data de confirmação do couto), seguindo as normas da primeira época do românico (com algumas particularidades em Paderne), semelhante a outros comuns no Alto Minho. Assim, o templo consiste numa ampliação da capela primitiva, para oeste, consistindo em dois corpos rectangulares sucessivos e dispostos longitudinalmente, correspondendo a capela primitiva à capela-mor e o novo corpo, mais largo, à nave única, integrada actualmente como braço do transepto, do lado do Evangelho.
- 3.ª campanha: Teria sido levada a cabo pelos Cónegos Regulares durante duas ou três décadas e terminada em 1264. Estes pretendiam um templo de amplas dimensões. Assim, particular e intencionalmente optaram pela integração da construção então existente na ampliação concebida (ampliação invulgar mas, por exemplo, análoga à adoptada em S. Pedro de Ansemil, na Galiza). As obras executadas terão consistido na construção de uma abside semicircular, existindo ainda vestígios na curva presente na junção da capela-mor com a capela do lado da epístola, reforçada pela estereotomia que ambas apresentam; terão também consistido na construção da actual nave, todo o braço e capela do cruzeiro do lado da epístola.
- 4.ª campanha: Terá começado no fim do século XVI e terá prosseguido até ao século XVIII, pouco anterior a 1770, data da extinção do mosteiro. A principal obra consistiu na demolição da abside e construção da actual capela-mor rectangular, mais profunda e com janelas laterais para iluminação do retábulo-mor então instalado. Também nesta fase se abriu o janelão circular na fachada este, na nave sobre a capela-mor, desfrutando-se assim de uma luz axial na nave. Atendendo ao estudo de Luís M. Fernandes Pinto, a ‘3ª campanha’ de obras, efectuadas neste templo, terão sido aquelas que mais determinaram a morfologia da actual igreja. Todavia, esta denota ser o resultado de soluções arquitectónicas desfasadas em tempo e princípios, não respondendo convenientemente aos ensejos estilísticos proclamados pela ordem dos Cónegos Regulares (Pinto, 2000: 11).


Informação recolhidas em:
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ADB - Registo Geral. Livro 330 (Censual), Braga, 1514-1532, fls. 480-485. ADP - Cópia do Sequestro e Inventário dos bens do Mosteiro de São Salvador de Paderne, 1770.

ADVC - Escritura de venda, quitação e obrigação feita a 27de Novembro de 1772, pelo Cardeal da Cunha, Arcebispo de Évora e Inquisidor Geral de Portugal a Luiz Rodrigues Caldas, do Mosteiro do couto de Paderne dos cónegos de Santo Agostinho, com todos os seus edifícios, terras e todos os mais bens, padroados da igreja de S. Salvador e suas anexas e mais igreja da apresentação do dito Mosteiro, casas, lagares, moinhos, eiras, pesqueiras, etc., à excepção dos foros, dízimos, dívidas activas, 1772.

ALMEIDA, C. A. Ferreira de - História da Arte em Portugal. O Românico, Ed. Presença, Lisboa, 2001.

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