Trata-se
de uma igreja com planta longitudinal composta de nave única e capela-mor,
mais baixa e estreita, tendo adossado à fachada lateral direita torre sineira
quadrangular e sacristia rectangular. Volumes escalonados com coberturas
diferenciadas em telhados de duas águas na igreja e sacristia, mas esta
disposta perpendicularmente, e coruchéu bolboso na torre, coroado por cruz
latina luminosa. Fachadas em alvenaria ou cantaria aparente, de aparelho
muito irregular, denotando as várias intervenções ao longo dos séculos, com
cunhais apilastrados na nave e torre sineira e terminadas em friso e cornija,
sobreposta por beirada simples. Fachada principal virada a O., terminada em
empena, levemente truncada, rematada por cruz latina de braços trevados sobre
acrotério; é rasgado por portal em arco de volta perfeita, com chanfro, sobre
dois colunelos de capitel vegetalista, e com tímpano liso sobre impostas
salientes, e por janela rectangular com elemento estilizado sob a moldura; no
topo, surge silhar com data de 1930 inscrita e elemento concheado. Nos
extremos da fachada o aparelho no lado direito integra pilastra e arranque de
um arco. Torre sineira no alinhamento da fachada, de dois registos, separados
por friso, o segundo rasgado, em cada uma das faces, por sineira em arco de
volta perfeita sobre pilastras e albergando sino; nos cunhais possui
fogaréus. Fachada lateral esquerda rasgada na nave por duas janelas de verga
abatida e moldura terminada em cornija, e capela-mor por janela rectilínea de
moldura simples; na capela-mor o aparelho possui vestígios da abertura de uma
fresta de perfil curvo. Na fachada lateral direita a torre tem o primeiro
registo com cartela inscrita com a data de 1900 e é rasgada por vão
quadrangular e óculo circular; na face posterior abre-se porta de verga recta
sobrelevada, precedida por escada de pedra; sobre a sineira possui florão
relevado. O aparelho desta fachada denota a existência de antiga porta
travessa em arco de volta perfeita e a existência de várias frestas de perfil
curvo; a nave é rasgada por duas janelas de capialço e, sensivelmente a meio,
por porta travessa de verga recta, e a capela-mor por janela rectilínea; a
sacristia é rasgada a O. por porta de verga recta, protegida por pequeno alpendre
e, lateralmente, por duas janelas jacentes. Fachada posterior da capela-mor
terminada em empena, coroada por cruz latina de braços quadrangulares e
remate trevado sobre plinto, e a sacristia por duas janelas jacentes. Urbano,
isolado no interior da aldeia, junto à estrada que a atravessa, integrado em
adro, delimitado por muro de cantaria, com acesso frontal, por portão de
ferro, ladeado por altos plintos paralelepipédicos, coroados por fogaréus
sobre bases.
Na fachada
lateral direita, entre a torre e a janela, existe nicho em arco de volta
perfeita, interiormente albergando imagem pétrea, ladeado por duas pilastras
suportando friso e cornija contracurvada, coroadas por pináculos piramidais
sobre plintos; a bacia do nicho assente em larga voluta inferiormente
decorada com pingentes.
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Já aqui me
referi a esta igreja num post anterior. Mencionei um antigo mosteiro que aqui
existia construído durante a Idade Média. No que toca a esta construção,
daquilo que se conhece, 1623 é a data do primeiro registo de baptismo
documentado. O ano de 1624 é data do primeiro registo de casamento
documentado sendo que 1626 é a data do primeiro registo de óbito documentado.
O ano de 1687, a 4 Agosto, o visitador da Câmara de Valença, pelo arcebispo
de Braga, D. Cristóvão da Costa Rosa, abade de Santa Eulália de Crespos,
manda os fregueses fazerem um alpendre à porta da igreja, de grandeza e
capacidade para receber a mais gente que a igreja não era capaz de albergar;
devia fazê-lo, tornando assim a igreja com maior capacidade e as portas com
maior resguardo dos temporais, até à Páscoa vindoura, sob pena de 10
cruzados. Em 1688, a 8 Novembro, o visitador, licenciado Manuel Dias, Abade
de São Miguel de Soutelo, refere que os fregueses não cumpriram as ordens do
visitador do ano anterior, nem consertaram o coro, nem fizeram o alpendre,
incorrendo assim em 6$000 de pena, pelo que os aliviava na maior pena e os
condenava apenas em 10 tostões. A 1690, em 6 Julho, o Dr. João de Araújo de
Azevedo, Vigário Geral da Comarca de Valença, diz que os fregueses não deram
satisfação ao pórtico da igreja como lhes fora mandado repetidas vezes,
relevando-os das penas dos capítulos por saber que eles fizeram outras obras
necessárias na igreja e por saber que eles queriam acrescentar a igreja ou no
comprimento ou fazendo outra nave para o lado da Epístola, conforme fosse
mais conveniente. Em 1695, manda-se o
fabriqueiro consertar o retábulo-mor, enquanto não houvesse rendimento para
lhe pôr um novo. Em 1697, a 10 Novembro, o visitador Dr. João Rumate de
Almonçan manda que, no prazo de 2 meses, os fregueses resolvam com o abade
fazer o acréscimo da igreja ou, não querendo, façam o pórtico, conforme
indicado nas visitas anteriores, sob pena de 8$000. Em 1698, a 11 Novembro, o
visitador Dr. António Lopes da Fonseca refere que já estava armado o dito
pórtico e tinham cal, e telha aparelhada para o cobrir. Em 1709, o visitador
refere que a igreja necessitava de um retábulo-mor novo, pois o que tinha
estava podre e aberto em duas partes, de tal modo que na Semana Santa, os
fregueses tinham medo de montar o sepulcro para exposição do Senhor. Assim,
mandava que, no prazo de um ano, fizessem um retábulo-mor novo pelo oficial
perito na arte. Em 1711, a 30 Novembro, o visitador Dr. Pinheiro Ramos achou a
igreja disforme e desproporcionada no corpo, de modo que não era possível
todos os fregueses ouvirem missa; o corpo principal da igreja era a menor
parte dela, sendo muito maior a nave que tinha do lado da Epístola, da qual
não se via o altar-mor. Achando que a igreja não se podia remediar, manda
assim fazer no mesmo sítio, uma igreja nova, de uma só nave, ou um só corpo,
com proporção, valendo-se do dinheiro necessário das confrarias. Para tal se
devia fazer a planta da igreja por quem o entendessem, não lhe fazendo obras
exteriores de pedraria desnecessárias, mas apenas as necessárias, como a
porta principal, duas travessas e frestas e no interior só o púlpito, com sua
escada, e coro, e tudo mais chão. A obra devia ser posta a lanços e ser
arrematada por quem a fizesse mais barata. A capela-mor também se devia fazer
de novo, correspondente à igreja. Em 1713, o Dr. Domingos da Mota, abade de
Santa Maria de Ferreiros, anunciou haver conseguido para os gastos da obra do
altar-mor mais de 40$000. O visitador impôs ao abade a obrigação de avisar o
arcebispo e a Casa de Bragança para ambos concorrerem para a obra. Para as
obras do corpo da igreja aconselha os fregueses a tirarem algumas esmolas na
freguesia pelo São Miguel e que se fosse reservando para elas o dinheiro das
confrarias. A 1714, em 19 Agosto, é mencionado que visto se demorar a obra do
corpo da igreja, o visitador, Dr. João de Carvalho Leitão, abade de São Tiago
do Castelo de Neiva, manda os fregueses, repararem o telhado e forro, para
que não chovesse no coro e pincelem o interior, até ao fim de Outubro, sob
pena de 2$000. Em 1715, a 18 Julho, o visitador Dr. António de Sousa Marim,
refere que muito havia que prover na Igreja, principalmente sobre o fazer-se
de novo, porque a freguesia tinha cerca de 1.000 pessoas de sacramento, não
cabendo nela nem a terça parte do povo, e dos que cabiam não viam o altar-mor
nem o celebrante, por causa de um altar colateral colocado num arco com que
se formava uma limitada nave, que lhe impedia a vista. Além disso, o
madeiramento do corpo da igreja ameaçava ruir, estando já o coro incapaz de
servir. À feitura da capela-mor devia concorrer a Casa de Bragança e o abade,
cada um com a quarta parte. Não se devia fazer outras obras enquanto não se
reedificasse a igreja e capela-mor. A 1716, em 20 Agosto, pela visitação
sabe-se que a obra de reedificação da igreja ainda não tinha sido iniciada. O
Dr. João de Carvalho Leitão manda apenas os fregueses retelharem o telhado
sobre o coro e serventia dos sinos, que ameaçava ruína e reparar com madeira
o dano do forro até ao fim de Outubro, sob pena de 2$000. Em 1718, o
visitador Dr. Domingos Gomes da Mota, abade de Santa Maria de Ferreiros,
refere que a obra ainda não fora iniciada, nem os fregueses fizeram
diligências em ajuntar dinheiro para ela. Manda pois os fregueses, no prazo
de um ano, iniciarem a obra do corpo da igreja pela planta que o abade tinha,
sob pena de 20$000; os fregueses deveriam fazer logo a coberta da pia
baptismal, devendo suspender a obra do coro. Em 1719, a 29 Agosto, o
visitador Dr. Manuel Pinheiro Ramos manda os fregueses endireitar as campas
do corpo da igreja e reformar o coro e respectiva escada. Em 1720, a 9
Dezembro, o visitador Dr. Manuel Ramos manda consertar o telhado do cabido e
fazer de novo a porta travessa de madeira, com fechadura. Em 1724, a 16
Novembro, o visitador Dr. Francisco de Oliveira Rego, prior da colegiada da
Matriz de Ponte de Lima, refere que os fregueses não retelharam o cabido ou
alpendre da igreja, o que deviam fazer até à próxima visita, sob pena de
2$000. Em 1735, a 20 Julho, o visitador Dr. Gonçalo Pinto de Carvalho
Medeiros, abade de Santa Marinha de Soutinhães manda os fregueses, no prazo
de 6 meses, consertar o forro da igreja e telhados, por estarem arruinados e
saber que chovia na igreja como na rua, sob pena de 2$000. Em 1736, manda-se
aplainar o corpo da igreja, no prazo de 6 meses. Em 1737, manda-se fazer a
mesma obra. Por ter falta de luz, o visitador mandou abrir uma fresta no meio
da parede da nave com a altura e largura necessária para dar luz aos altares
colaterais. O cabido da igreja ameaçava ruir por se lhe ter tirado muita
telha para reformar o corpo da igreja, mandando assim retelhá-lo, tudo sob
pena de 6$000. Em 1754, a 2 Setembro, o visitador Dr. Marcelino Pereira
Cleto, abade de São Miguel de Entre os Rios, informa que, devido à grande
despesa que seria necessário, não se reconstruiu a igreja, conforme fora
ordenado, porém a igreja achava-se bem reformada, só lhe faltando reformar em
correspondência a capela-mor, onde existia um retábulo mais antigo e que não
podia servir, mandando fazer-lhe uma tribuna, como desejavam os oficiais da
Confraria do Santíssimo. Assim, manda reformar a capela-mor do que fosse
necessário e fazer um novo retábulo-mor, concorrendo os oficiais da dita
confraria para a despesa da tribuna. Em 1755, a 1 Novembro, refere-se nos
registos que não sofreu ruína no terramoto. Em 1758, a 8 Maio, segundo o
abade Domingos Gomes nas Memórias Paroquiais, a freguesia pertencia à comarca
de Valença, arcebispado de Braga e termo de Melgaço. A freguesia tinha 249
vizinhos e 713 pessoas. A igreja, com orago de São Paio, tinha naves, uma com
três arcos, e cinco altares, o do orago, onde estava o Santíssimo Sacramento,
o da Senhora do Rosário, o da Senhora do Carmo, o do Santo Cristo e o das
Almas. Tinha a irmandade do Santíssimo Sacramento, a da Senhora do Rosário e
a das Almas. Era abadia com apresentação da câmara eclesiástica de Braga, que
na época era o abade Domingos Gomes, que tinha de renda 200$000, excepto os
incertos, por não receber mais que a quarta parte dos frutos, pois a metade
dos frutos da freguesia eram da Mitra Primaz e a outra quarta parte eram da
Casa de Bragança. Em 1760, a 9 Março, segundo o visitador, o retábulo-mor
estava muito velho e em parte comido pelo caruncho, não podendo expor o
Senhor nas festividades da semana Santa devido à pequenez do retábulo. Em
1782, a 16 Novembro, o visitador, reverendo António Manuel da Costa e Melo,
cónego da colegiada de Viana e prior de Nossa Senhora de Monserrate, refere
que o retábulo-mor estava caindo aos pedaços, necessitando-se de um novo e,
para melhor o acolher, manda acrescentar a capela-mor 4 ou 5 palmos de
comprido, pedindo primeiro licença ao Arcebispo de Braga. Refere que se devia
rebaixar o altar, tirando um degrau, e levantar-se o arco triunfal. Já que na
fábrica havia dinheiro para as obras de São João Baptista, que estava em
estado miserável, e as da igreja, manda o fabriqueiro dar cumprimento à obra
no prazo de um ano. O retábulo devia ser feito à moderna, com pouca talha. Em
1784, a 15 Julho, o visitador, Dr. José de Barros Almeida, abade do Salvador
Real, reafirma a necessidade de reformar a capela-mor e de se fazer um novo
retábulo. Em 1795, a 14 Julho, pelo visitador Dr. Inácio José Caldas, abade
de Cabanelas, sabe-se que tudo estava na mesma. Em 1797, o visitador
considerou a capela-mor destituída de todo o zelo e cuidado religioso. Ela já
não tinha decência para ter o sagrado viático, sendo necessário os fiéis
aparelharam um altar decente ao lado da capela-mor. Em 1816, a 5 Agosto, o
visitador António José dos Santos, abade de Santo André de Santa Cruz de
Lima, refere que a igreja está em estado deplorável, com todas as paredes arruinadas,
que ele mandou escorar. Menciona que os telhados e soalhos são indignos da
casa do mais pobre cabaneiro, quanto mais da casa de Deus. A capela-mor
devia-se chamar casa de guardar madeiras velhas para o fogo. Não tendo
retábulo, nem altar decente, sem taburno nem frontal, tendo apenas uns
pedaços de colunas velhas onde estava o padroeiro, ordena assim que fizessem
uma igreja inteira e nova capaz de albergar todo o povo. Em 1824, a 11 Novembro,
segundo o visitador Isaac Benevenuto da Silveira e Costa, professo na Ordem
de Cristo e abade de Santiago de Sampris, a capela-mor e residência da igreja
ameaçavam ruína total, recomendando ao pároco a sua reforma. Em 1900, dá-se a
construção da torre de acordo com a data inscrita na fachada lateral da torre
assinalando a sua construção. A data de 1930 aparece inscrita na empena da
fachada principal, correspondendo às obras que o encomendado Padre Raimundo
Prieto fez na igreja, nomeadamente alargando-a, por lhe retirar os arcos que
possuía e quando tomou o aspeto arquitetónico que ainda hoje tem.
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Hoje em
dia, depois destas transformações, obervamos uma Igreja de construção
medieval, conforme denotam os vestígios das frestas nas fachadas laterais e
da porta em arco na lateral direita e o portal axial, ainda que este integre
já elementos revivalistas, nomeadamente no tímpano. A igreja possui uma
volumetria desproporcionada entre os vários volumes, situação que já era
apontada pelos visitadores no séc. XVIII. Pelas visitações sabe-se que foi
ampliada para três naves separadas por arcos e, já na primeira metade do séc.
XX, para ampliar o espaço, esses mesmos arcos foram removidos. As diferentes
modinaturas das janelas da nave e capela-mor apontam para a sua feitura em
épocas distintas. O nicho com imagem do orago na fachada lateral direita é
barroco.
Informações recolhidas em:
ESTEVES, Augusto César,
Igreja Matriz de São Paio, in Obras Completas nas páginas do Notícias de
Melgaço, vol. 1, tomo 2, Melgaço, 2003, pp. 409-424; CAPELA, José Viriato, As
freguesias do distrito de Viana do Castelo nas Memórias Paroquiais de 1758,
Braga, Casa Museu de Monção / Universidade do Minho, 2005.
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quinta-feira, 12 de julho de 2012
A Igreja Paroquial de São Paio: Do mosteiro medieval até à remodelação de 1930
Etiquetas:
idade média,
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mosteiro,
s. paio,
século XVII,
século XX
Local:
Vila Nova de Gaia, Portugal
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